Preços do trigo devem ser sustentados pelo aperto do balanço e incertezas da guerra

Setor
17/08/2023

No mercado de trigo, de acordo com o USDA, o balanço global de oferta e demanda para a safra 2023/24 deverá apresentar mais um ano de redução da relação estoque/consumo (E/C), caminhando para 33,5%, o menor patamar do indicador das últimas 10 safras. Ademais, a soma do volume dos estoques finais dos principais exportadores também segue em queda, ou seja, para a demanda dos importadores a disponibilidade se projeta menor.

Algumas questões precisam ser acompanhadas, dado que têm potencial para mudar o cenário de oferta.

A primeira delas é que o principal exportador global, a Rússia, pode ter dificuldades no escoamento de grãos, assim como ocorreu no último ano, com o conflito continuando. Além disso, a influência geralmente negativa do El Niño sobre a produção asiática, associada a menos chuvas, pode reduzir as produções estimadas para Índia, China e Austrália, influenciando negativamente o quadro de suprimento do cereal. Apesar do cenário construtivo para preços, a perspectiva de balanço global de milho mais folgado define um teto para o trigo.

Nos EUA, apesar da área destinada à cultura na safra 2023/24 ser 6,2% maior em relação à temporada anterior, contabilizando 15,2 milhões de hectares, o balanço doméstico deverá ficar mais apertado. A produtividade é estimada em 3,1 toneladas/ha (51,6 scs/ha), 3,5% menor que a do ano anterior. Com isso, a produção americana deverá ser de 7,3 milhões de toneladas, 5,4% acima do ano anterior, enquanto o consumo destinado às rações deverá crescer 27%, indicando uma relação E/C apertada historicamente, sustentando Chicago.

Por outro lado, a competição no mercado externo com o trigo russo, que tem grande disponibilidade, mitigaria possíveis elevações. Na Argentina, principal fornecedor de trigo ao mercado brasileiro, o El Niño pode ajudar a retomar a produtividade, que sofreu no último ano com falta de chuvas. O aumento estimado para a produção é 24% em relação ao ano anterior,totalizando 16,9 milhões de toneladas, podendo aumentar a disponibilidade nos portos e vir a pressionar as cotações na região do Prata.

No Brasil, com o aumento de área, a produção deve bater um novo recorde, de 12,5 milhões de toneladas segundo a Safras & Mercado. Com isso, aumentará a disponibilidade do cereal mesmo sustentando recordes de exportação, em função da diminuição da oferta do Mar Negro. Apesar da produção recorde estimada, deve-se considerar que o ElNiño tende a trazer mais chuvas na época da colheita na região Sul, o que pode comprometer parte da produção, reduzindo a oferta de trigo de maior qualidade.

Do lado dos preços, como descrito anteriormente, caso a produção recorde se concretize, esse volume tende a puxar os preços para baixo. E mesmo que as exportações enxuguem o balanço doméstico, o câmbio pode não ajudar na paridade de exportação. Além disso, o nosso principal fornecedor também caminha para uma disponibilidade maior do cereal. O que pode ajudar o produtor é a política de preços mínimos, que estipulou o valor de R$ 79,20/sc (eq. R$ 1.320/t) para o trigo nessa safra.

Produtor – Perspectiva de safra cheia exigirá atenção

Ao produtor de trigo, o cenário sugere a volta das margens aos patamares médios históricos da cultura, visto que os fundamentos não garantem altas significativas dos preços e o clima no final da temporada pode alterar a qualidade do cereal a ser colhido. O ponto a ser acompanhado é a condição climática durante a colheita do cereal, dada a possibilidade de excesso de chuvas, o que, caso ocorra, pode prejudicar a qualidade do cereal.

A estocagem é outro ponto de atenção, visto que o custo de carrego ainda deve continuar alto, ou seja, a negociação ao longo dos meses pode aumentar o giro do caixa para a próxima safra de verão e trazer liquidez.

Moinhos – Custos mais baixos serão o trunfo do ano

Dada a maior disponibilidade de produto prevista para essa safra, a necessidade de se formar grandes estoques será menor, reduzindo o custo de estoques. Além disso, como as aquisições podem ocorrer em janelas maiores, a necessidade de capital de giro pode vir a ser menor ao longo da próxima safra, melhorando o custo da operação. Do lado da farinha, os preços do produto, bem como os do farelo, também tendem a ceder em função do aumento da oferta e, com isso, pode haver uma redução do faturamento. Contudo, a combinação entre os custos financeiros um pouco menores somados à boa disponibilidade do cereal, que reduz o custo da matéria-prima, pode trazer mais um ano com margens acima da média ao setor.

Fonte: O Presente Rural

Deixe sua opinião