Preços do trigo devem seguir elevados na safra 2022/23

Setor
06/09/2022

Com a safra 2021/2022 de 7,7 milhões de toneladas, o trigo vem se firmando entre as principais commodities brasileiras ao conquistar cada vez mais espaço nas lavouras do país. O recorde de produção é resultado do aumento da área produzida em 182 mil hectares e uma produtividade acima de três mil toneladas por hectare, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com estimativa de exportar seis milhões de toneladas e de importar outros três milhões de toneladas, os estoques finais do cereal totalizam 722,6 mil toneladas.

A safra de inverno já está em andamento nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e a previsão é de um novo recorde, chegando a uma produção de 9,2 milhões de toneladas. Com este volume, o crescimento na colheita de trigo pode chegar a 75% em comparação à safra de 2019, quando foi registrada uma produção de 5,1 milhões de toneladas. Para a safra que se inicia, a expectativa é que o estoque finalize em 1,6 milhão de toneladas.

Conforme a Conab, o aumento esperado de 19,3% da atual safra é reflexo de uma maior área plantada, com crescimento expressivo no Estado gaúcho, que chega a 18% se comparado com a safra passada, aliado a uma expectativa de aumento na produtividade.

Mercado internacional

Os preços no cenário internacional devem seguir elevados ao longo da safra 2022/2023, em função do balanço global mais apertado das últimas oito safras e com portos de origens importantes com disponibilidade física limitada. No Mar Negro, região com maior concentração de trigo exportável, ainda seguem incertos o volume a ser produzido e o ritmo de exportações, em razão da continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia, e principalmente as sanções globais aplicadas aos russos. “Em relação ao território ucraniano, a interrupção desse fluxo de exportações já abrange três safras: a armazenada (2020/2021), a plantada (2021/2022) e a próxima (2022/2023), visto que, além da logística, as operações dentro das propriedades foram restritas e devem limitar ainda mais a oferta do cereal em um cenário de balanço bastante justo”, avalia a consultoria Radar Agro do Itaú BBA.

De acordo com a especialista em Inteligência de Mercado da StoneX Brasil, Ana Luiza Lodi, a disponibilidade do grão no mercado internacional está menor em razão dos estoques mais baixos, no entanto, de forma geral, os moinhos estão abastecidos para atender a demanda até a entrada da safra nova no mercado, quando aumenta a disponibilidade de oferta do cereal.

Contudo, a guerra da Rússia na Ucrânia tem causado uma volatilidade muito grande nas cotações, cenário que pode desencadear um balanço entre oferta e demanda mundial de trigo mais apertado nas próximas semanas. “Por conta da guerra a perspectiva é que a Ucrânia vai produzir menos trigo do que a sua capacidade de produção, ao tempo que deverá escoar menos grãos, gerando um impacto significativo nos preços, mas ainda é cedo para afirmar se vai faltar trigo, no geral, o que percebemos é uma oferta menor”, expõe Ana, acrescentando: “Com o estoque mais baixo, o preço tende a subir para ajustar a oferta à demanda. E como o Brasil depende da importação de trigo vai sentir o enfraquecimento das exportações, porque a maior parte do trigo que compramos vem da Argentina e o país, nos últimos anos, diversificou o destino das exportações, ou seja, em um possível cenário de falta do cereal aumentaria a competição por essas exportações”, pontua Ana.

Outra questão levantada pela especialista em Inteligência de Mercado da StoneX Brasil é com a questão macroeconômica global, que pode gerar uma possível desaceleração econômica ao redor do mundo, podendo até desencadear uma provável recessão. “À medida que os bancos centrais aumentam as taxas de juros para combater a inflação, que está presente no Brasil, nos Estados Unidos, Europa e Ásia, por exemplo, porém a alta generalizada nos preços é uma medida contracionista, que tende a impactar negativamente a economia. Essa é uma questão que não tem afetado só o trigo, mas também as exportações das comodities em geral, porque existe a preocupação que possamos ter um desempenho econômico fraco”, sintetiza Ana.

Incremento na economia

Do lado da demanda, o incremento na economia de R$ 89,1 bilhões do programa Auxílio Brasil vai impulsionar o poder aquisitivo de 20,2 milhões de famílias brasileiras. Com isso, os analistas de mercado vislumbram a elevação do consumo de farináceos.

Exportação e Importação

Já as exportações podem manter mais um ano com um fluxo intenso nos portos em função da demanda global pelo cereal e o risco de desabastecimento em alguns importadores importantes devido à limitação de disponibilidade.

De janeiro a junho foram importados 3,2 milhões de toneladas de trigo, e somente em julho o país embarcou 499,5 mil toneladas. “O Brasil é muito dependente do mercado externo, mesmo tendo boa produção, porque o consumo interno supera 12 milhões de toneladas, e parte da produção é exportada, não fica totalmente no mercado interno”, frisa Ana.

Margens positivas ao produtor

O Radar Agro prevê mais um ano positivo de margens ao produtor. Apesar da projetada safra recorde para o Brasil, os preços tenderão a se manter em patamares elevados visto que a dinâmica de exportação deve impulsionar os volumes, e com isso, a comercialização no momento da colheita será disputada pelos moinhos e pelas tradings, sendo que, nesse cenário de maior competição quem pode ganhar é o produtor, com preços melhores.

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Fonte: O Presente Rural

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