Conflito Rússia e Ucrânia encarece o trigo e pressiona moinhos no Brasil

Abitrigo
25/02/2022

A invasão da Ucrânia pela Rússia, dois dos maiores players mundiais do mercado de trigo, deve elevar ainda mais o preço do cereal no Brasil e pressionar as indústrias moageiras, que já estão com margens de lucro bem apertadas, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o embaixador Rubens Barbosa. A análise do dirigente é endossada por analistas do mercado.

“As incertezas sobre a guerra já impactaram o preço do trigo internacional, que subiu 15%. Com o conflito vem ainda o custo indireto das sanções que devem ser aplicadas à exportação dos fertilizantes e insumos ”, diz Barbosa. Nesta quinta-feira (24/2), os preços internacionais do cerealfecharam em forte alta na Bolsa de Chicago, matendo um atendência vista desde o pregão da madrugada.

A Rússia é o quarto maior produtor de trigo do mundo e o maior exportador. A Ucrânia é o sétimo maior produtor e está entre os quatro maiores em embarques. Juntos, os dois países respondem por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo. O Brasil compra pouco trigo da Rússia. No ano passado, foram apenas 28 mil das cerca de 6 milhões de toneladas importadas, e nada da Ucrânia.

O principal fornecedor externo de trigo para o Brasil é a Argentina, que responde por metado do volume processado nos moinhos brasileiros. Ainda assim, sendo o cereal uma commodity referenciada no mercado internacional, o quadro de oferta e demanda nos demais produtores influencia na formação do preço do produto argentino.

“A Rússia tem o trigo mais barato do mundo e a Argentina fica de olho nesse preço. Normalmente, o país vizinho calcula o preço do seu trigo com base no produto russo e na diferença de frete da Argentina para o mercado potencialmente atendido pelos russos”, diz Fernando Michel Wagner, gerente comercial América Latina da Biotrigo.

Segundo ele, com a falta do trigo da Rússia e da Ucrânia, a Argentina deve se juntar aos Estados Unidos e à Austrália para suprir o mundo. Wagner destaca que a baixa do dólar arrefeceu recentemente o aumento de preços do trigo nacional, mas não houve queda devido ao nervosismo do mercado justamente pelas questões geopolíticas.

Flavia Starling, analista do mercado de trigo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), destaca que a crise afeta o mercado futuro porque dá uma ideia de que pode faltar trigo no mundo. Ela diz que os preços já subiram muito nos últimos meses, devido ao câmbio e ao fato de que o Brasil está na entressafra. Ela não acredita em risco de desabastecimento no Brasil, mas diz que mesmo o preço mínimo proposto pela Conab deve subir, como consequência do aumento dos insumos.

“Temos que lembrar que, apesar do aumento de 16% da área plantada e de 26% da produção no Brasil, não houve desvalorização da saca nem durante a safra, ao contrário do que normalmente ocorria no período de agosto a dezembro, quando a oferta interna é mais alta”, diz.

Segundo a analista, os estoques de passagem para permitir um equilíbrio entre oferta e demanda estão bem baixos há três safras e não dá para contar com a política governamental de estoques estratégicos, que está em desuso na atual gestão.

Para Cesar Alves, analista do Itaú BBA, o cenário de curto prazo é muito complicado. A depender das sanções a serem adotadas nas commodities e fertilizantes, pode agravar o cenário de fome no mundo, especialmente em países da África dependentes do trigo e milho da região em conflito. Ele acrescenta que, se a Ucrânia sair do mercado internacional, os preços do trigo, milho e até da soja vão subir de imediato e afetar indiretamente o setor de carnes, que depende do milho e do trigo para a ração e já está com problemas pelo aumento dos custos de produção.

Por outro lado, segundo o diretor da Biotrigo e o presidente da Abitrigo, o aumento de preço do cereal no mercado internacional pode incentivar o produtor nacional a aumentar o plantio. No ano passado, o Brasil, mesmo sendo altamente dependente do trigo importado, embarcou um recorde de 1,5 milhão de toneladas, aproveitando os bons preços.

Fonte: Globo Rural

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