Com ajuda do tempo seco, produção de trigo deve crescer em 2024 mesmo com queda da área plantada

Setor
20/06/2024

O Paraná deve conseguir aumentar a produção de trigo na safra de 2024 mesmo com uma redução de mais de 20% da área plantada. A expectativa do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), é de que o estado colha 3,8 milhões de toneladas de trigo este ano – 2% a mais que na safra anterior.

Um dos principais motivos para as boas expectativas para a safra é a previsão do tempo. Diferente de outras regiões do país, todo trigo produzido no Paraná é consumido no próprio estado.

O engenheiro agrônomo e produtor de trigo Fredy Nicolaas Biersteker explica que em 2023 houve muita chuva na colheita, enquanto as culturas de inverno – como o trigo – gostam de clima mais seco e frio.

“Este ano, pela tendência de o inverno ser mais seco, temos uma boa expectativa de safra tanto em termos de qualidade quanto de produtividade. Tendo melhor qualidade, melhora o preço e aumenta a produtividade, porque quando chove esses dois fatores são prejudicados”, complementa.

Fredy também fala sobre a cultura da perspectiva de quem vem de uma família de plantadores de trigo. O pai e o avô dele já plantavam o grão em Tibagi, nos Campos Gerais, e ele deu sequência à tradição. São 20 anos dedicados à lavoura, que recebe soja e milho no verão, e trigo, cevada e aveia preta no inverno.

Para o engenheiro agrônomo e agricultor, investir na cultura é interessante do ponto de vista financeiro e sustentável. Hoje ele tem 150 hectares dedicados ao trigo e colhe 4 mil kg/ha.

“Só fazer cobertura de inverno ou deixar no pousio não tem rentabilidade, e com o trigo a gente pode tentar reverter essa situação. Mas mesmo que não tenha rentabilidade, a cultura pagando os custos da propriedade e dos funcionários no inverno já vale à pena. O trigo também é importante para a rotação de culturas e o controle de plantas daninhas, porque assim o solo vai estar sempre coberto”, defende.

Capital do trigo

Tibagi é conhecida como Capital Nacional do Trigo pela posição de destaque que ocupa na produção do cereal. Na safra 2022/2023, segundo dados do Deral, a cidade alcançou 34 mil hectares de área plantada e uma produção de 108 mil toneladas.

A região caminha para tornar o título oficial por meio de um projeto de lei em debate na Câmara dos Deputados.

Há décadas a cidade se destaca na produção do cereal. Marcelo crava que pelo menos nos últimos 40 anos o trigo faz parte da agricultura da região.

“A cultura sempre esteve presente porque Tibagi é um dos berços do plantio direto. Quando começaram a trocar as pastagens de gado para soja, o trigo foi uma cultura de inverno que se tornou o par natural da soja. Então nessa região sempre teve trigo, desde que começou o plantio da soja”, diz.

A altitude do município também favorece os bons resultados produtivos.

“Tibagi é favorecida nesse sentido porque está no alto da Escarpa Devoniana, tem um solo propício, além de um clima frio e seco. Diferentemente de Castro e Ponta Grossa, na cidade não temos muita neblina no amanhecer, o que dificulta a entrada de doenças do trigo”, explica Ivo Arnt Filho, membro da Câmara Setorial de Culturas de Inverno no Ministério da Agricultura.

Para onde vai o trigo?

De acordo com Marcelo Vosnika, associado do Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná (Sinditrigo) e diretor na Moageira Irati, 100% do trigo paranaense é destinado à produção de farinha – indo do campo direto para os moinhos da região de Curitiba e dos Campos Gerais.

Ao contrário de outros estados exportadores, como o Rio Grande do Sul, o Paraná consome mais trigo do que produz. Na média estadual, o consumo é de 4,2 milhões de toneladas e a produção média está em torno de 3,5 a 4 milhões, segundo Marcelo.

Por isso, dificilmente o trigo paranaense é exportado pelo grande consumo interno, além do fato de ter o maior parque moageiro do país.

“O trigo do Paraná só é viável para exportação quando a qualidade da produção é ruim, nesse caso ele é destinado para a produção de ração. Mas em 90% dos casos o trigo produzido é bom”, afirma Marcelo.

Fonte: G1

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