Cientistas descobrem que uso da água para o trigo varia em cada região do Brasil

Setor
20/02/2024

Um estudo inovador realizado por cientistas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) e da Embrapa revelou que a quantidade de água necessária para o cultivo de trigo varia significativamente em diferentes regiões do Brasil.

A descoberta desafia as diretrizes da FAO, que sugeria um valor único para todo o país, e abre caminho para o uso mais eficiente da água na agricultura brasileira.

O estudo, publicado na revista científica “Agricultural Water Management”, reuniu um extenso banco de dados sobre a evapotranspiração do trigo (a quantidade de água que a planta usa e transpira para o ar) em diferentes regiões e condições climáticas do Brasil.

A equipe analisou diversos métodos de irrigação e cultivares de trigo, buscando entender como o clima local influencia o consumo de água da planta.

Os resultados mostraram que a quantidade de água que o trigo precisa varia consideravelmente de acordo com a região. Essa variação é mais acentuada em locais com maior demanda por transpiração, como áreas mais secas e quentes.

Com base nas descobertas, os pesquisadores propõem a utilização de diferentes coeficientes de cultivo para o trigo no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, as principais regiões produtoras do país. Isso significa que a quantidade de água recomendada para a irrigação do trigo precisará ser ajustada segundo as características climáticas de cada região.

Benefícios para a agricultura e o meio ambiente
A adoção de coeficientes de cultivo específicos para cada região trará diversos benefícios para a agricultura brasileira, como:

Uso mais eficiente da água: A irrigação será otimizada, evitando o desperdício de água em regiões com abundância e garantindo a quantidade necessária em áreas mais secas.
Economia de recursos: A otimização da irrigação reduzirá os custos de produção, especialmente em regiões que dependem de sistemas de irrigação mais caros.
Sustentabilidade ambiental: A diminuição do consumo de água na agricultura contribuirá para a preservação dos recursos hídricos e para a mitigação dos impactos da seca.
Cultivares de trigo para o clima brasileiro
A pesquisa também destaca a importância da escolha de cultivares de trigo adaptadas às condições climáticas de cada região. O Brasil possui diversas cultivares desenvolvidas pela Embrapa, como a BRS 394, BRS 254, BRS 264 e BRS 404, que apresentam características específicas para diferentes regiões e sistemas de produção.

BRS 394 – conhecida como o “Trigo melhorador do Cerrado”, a cultivar foi desenvolvida para cultivo irrigado na Região do Cerrado do Brasil Central. Apresenta como principais características a precocidade, o alto potencial produtivo, chegando a 140 sc/ha em lavouras, a boa resistência ao acamamento e um excelente desempenho na indústria com alta força de glúten e estabilidade. Indicada para o cultivo na BA, GO, MG, MT, MS, SP e DF.

BRS 254 – a cultivar é alternativa para rotação de culturas no sistema produtivo da região do Cerrado do Brasil Central. Apresenta excelente produtividade e ótima qualidade industrial. A produtividade média da BRS 254 é de 100 sc/ha em lavouras, sob cultivo irrigado no cerrado. É resistente à debulha natural e apresenta excelente qualidade tecnológica, sendo classificado como melhorador. É indicada para: MG, MT, GO, DF e BA.

BRS 264 – adaptada para o cerrado do Brasil Central com ciclo super precoce, espigamento em 40 dias e maturação em 110 dias, que permite diminuir os custos de produção e minimizar impactos ao ambiente através da redução na utilização de água e energia elétrica da irrigação. É a cultivar preferida pela indústria moageira pela estabilidade de rendimento e qualidade de farinha. Com indicação de cultivo para os estados de MG, MT, DF e GO e potencial de rendimentos acima dos 100 sc/ha.

BRS 404 – Alternativa para o cultivo de trigo de sequeiro no Cerrado. Apresenta ciclo precoce, classe comercial pão e estabilidade na produção de farinha. A BRS 404 foi a primeira cultivar a apresentar maior tolerância à brusone. É adaptada para plantio nos estados de DF, GO e MG, com potencial de rendimento de 40 sc/ha. (fonte: Embrapa Trigo).

FAO-56: Publicação que apresenta procedimento atualizado para cálculo da evapotranspiração de referência e de culturas a partir de dados meteorológicos e coeficientes de culturas. O procedimento, apresentado pela primeira vez no Documento de Irrigação e Drenagem nº 24 da FAO ‘Requisitos de Água das Culturas’, é denominado abordagem ‘Kc ETo’, em que o efeito do clima nas necessidades de água das culturas é dado pela evapotranspiração de referência ETo e o efeito da cultura pelo coeficiente de cultura Kc. (Fonte: Boletim FAO 56)

Fonte: Planeta Campo 

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