Aumento da oferta derruba preços do trigo

Setor
15/09/2022

Ao mesmo tempo que projetam uma safra recorde de 9,4 milhões de toneladas de trigo neste ano – das quais 4 milhões de toneladas virão de lavouras gaúchas –, os produtores brasileiros vêm assistindo à queda dos preços do cereal no mercado interno. O recuo é explicado por analistas de agronegócio como um efeito da maior oferta do produto, já que o Paraná deu início à colheita, e da lentidão nas negociações com as indústrias moageiras. No Rio Grande do Sul, a tonelada do trigo estava em R$ 1.762,99 na terça-feira (13), o que indica uma variação mensal negativa de 4%, de acordo com levantamento do Cepea/Esalq.

O analista Élcio Bento, da consultoria Safras e Mercado, avalia que os preços devem continuar em baixa à medida que as novas safras gaúcha e paranaense forem chegando ao mercado. Segundo o consultor, os moinhos vêm protelando as compras na expectativa de preços ainda mais favoráveis, enquanto os produtores estão hesitantes em negociar a produção e apostam em alguma reversão desse cenário, impulsionada por uma recuperação de cotações no mercado internacional ou alteração no câmbio. “Se a gente pensar numa queda de braço entre produtores e vendedores, neste momento, quem está vencendo são os vendedores, porque está sobrando trigo no Brasil”, resume Bento.

No caso do Rio Grande do Sul, o consumo de trigo é estimado entre 2 milhões e 2,5 milhões de toneladas por ano. “Vai sobrar trigo. Isso terá de ser colocado no mercado internacional, e as vendas externas (ainda) estão fracas”, diz Bento. Apesar da retração, o consultor observa que os preços do trigo ainda são superiores aos do mesmo período do ano passado.

Para o analista Carlos Cogo, da Cogo Consultoria em Agronegócio, há margem para novas quedas de preço no curto prazo, com o avanço da colheita nas regiões produtoras e a forte queda das cotações futuras. No Rio Grande do Sul, o valor médio pago pela tonelada de trigo passou de R$ 2.200 em junho deste ano para os atuais R$ 1.760, afirma o consultor. “Mas os bons volumes exportados pelo Brasil e a paridade de importação acima do preço interno devem servir de piso para as cotações domésticas”, avalia.

Cogo observa que, na Bolsa de Chicago, as cotações futuras do trigo SRW (Soft Red Winter) se distanciaram expressivamente dos picos registrados no início deste ano, com o vencimento dos contratos para entrega em setembro recuando da máxima histórica de US$ 12,78 por bushel em maio deste ano para os atuais US$ 8,37 por bushel. “Porém, vale destacar que as cotações externas seguem bastante acima da média histórica dos últimos 10 anos, que é de US$ 6,45 por bushel para o trigo SRW, na Bolsa de Chicago”, ressalta o consultor. Em Chicago, os futuros do trigo SRW para 2023 oscilam entre US$ 8,70 e US$ 8,90 por bushel.

Fonte: Correio do Povo

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