Ataque à Ucrânia não afeta mercado de trigo no Brasil no curto prazo

Setor
25/07/2023

Novos ataques russos a instalações de grãos da Ucrânia, desta vez em portos do rio Danúbio, fizeram os preços do trigo subirem 8,6% ontem na bolsa de Chicago. Com essa valorização, os papéis do cereal tiveram alta de 16% em cinco dias e acenderam o alerta sobre como isso pode impactar os preços no Brasil. Analistas, porém, afirmam que o recente capítulo não deve fazer a pizza ou o pãozinho subirem de “bate-pronto”.

A Rússia é o maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia, o quinto. Apesar disso, nenhum deles é fornecedor para o Brasil. Quem atende o país prioritariamente com mais de 85% do que é importado é a Argentina. “A mudança em Chicago eleva a cotação base do trigo, mas o câmbio e o fato de o Brasil estar prestes a colher uma importante safra fazem pressão contrária no preço”, disse Luiz Carlos Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica.

“O Brasil teria que aproveitar essa alta, exportar 3,5 milhões de toneladas de trigo e isso sim puxaria os preços no mercado interno. Do contrário, se a safra for realmente boa, os preços podem cair aqui”, completou.

A expectativa é que safra brasileira repita o desempenho do ciclo passado em 2023/24, com 10,5 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 5,5% mais que no ciclo 2021/22.

Com isso, a estimativa de importação cai de 6,3 milhões da média dos últimos cinco anos para 5,5 milhões de toneladas. A exportação em 2022/23 ficou em 2,6 milhões de toneladas.

Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, também afirmou que o Brasil poderá se beneficiar do cenário, com aumento de exportações, caso os embargos do ocidente atrapalhem o escoamento russo.

“A longo prazo, podemos ter uma tendência de recuperação, porque se os preços internacionais sobem, abre espaço para o Brasil exportar a preços mais altos e pode haver uma entressafra com tendência de recuperação”, detalhou.

Mercado interno

Com isso, a estimativa de importação cai de 6,3 milhões da média dos últimos cinco anos para 5,5 milhões de toneladas. A exportação em 2022/23 ficou em 2,6 milhões de toneladas.

Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, também afirmou que o Brasil poderá se beneficiar do cenário, com aumento de exportações, caso os embargos do ocidente atrapalhem o escoamento russo.

“A longo prazo, podemos ter uma tendência de recuperação, porque se os preços internacionais sobem, abre espaço para o Brasil exportar a preços mais altos e pode haver uma entressafra com tendência de recuperação”, detalhou.

Quando a guerra estourou, em fevereiro de 2022, o susto grande fez os preços do trigo dispararem e o recorde foi atingido em 7 de março, com US$ 14,2525 o bushel. Na última sessão, apesar do avanço, a cotação ficou bem longe disso, a US$ 7,575 o bushel.

Ao longo do ano passado, a farinha de trigo subiu 30%, mas desde então vem caindo. Ontem a saca de 25 quilos da variedade para panificação custava R$ 84 em São Paulo, 20% menos que há um ano.

Inflação

Cálculos preliminares de Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos ao Valor sinalizam que o fim do acordo poderia acrescentar 0,4 ponto porcentual na inflação de alimentos. “É um risco a mais em um cenário que já está preocupante por causa do El Niño.” A Constância projeta IPCA cheio fechando o ano em 5,10%, com 0,75 ponto vindo da categoria alimentos.

Lohmann ressalta que trigo e milho têm relevância pequena para a inflação brasileira (1,3% do IPCA), mas afetam indiretamente o preço da carne bovina e da carne industrializada, que têm peso maior, de 3,3%. Além disso, o fim do acordo pode impactar no comportamento das commodities agrícolas como um todo.

“Se começarmos a ter alta dos preços de alimentos, que é o principal motor de desinflação nos Estados Unidos, a narrativa de juros mais altos lá ganha força, o que pode pressionar o câmbio aqui”, acrescentou.

XP Investimentos minimiza o efeito do fim do acordo sobre os preços brasileiros neste momento. Segundo o economista Alexandre Maluf, o movimento não afeta o escoamento da produção russa, que é muito mais relevante. “A própria Ucrânia também tem outros meios de escoar sua produção, como pelo norte da Europa e pela Romênia”, diz. “Não é algo que deve preocupar aqui, pelo menos no curto prazo.”

Fonte: Globo Rural

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