Trigo pode ser a nova soja da Embrapa e já chama a atenção até da Coreia do Norte

Setor
22/09/2020

A Embrapa deu início à escalada da soja há cinco décadas no Brasil. Hoje, o país é líder mundial na produção e na exportação desse produto.

Variedades e adaptabilidade aos diferentes microclimas e solos levaram a oleaginosa para todo o território nacional. É o que os pesquisadores querem agora com o trigo.

Há 14 anos na Embrapa Trigo e buscando, por meio de mudanças genéticas e adaptações, levar o plantio do cereal para todo o país, Osvaldo Vasconcellos Vieira, chefe da entidade, acredita que isso será possível.

Um dos pontos básicos para que isso se efetive, segundo ele, é seguir o milho. Dependente desse cereal até o início dos anos 2000, o Brasil passou a ser importante participante no cenário internacional.

O país ganhou o mercado externo com boa oferta de produto e com qualidade. Em 2019, o Brasil liderou as exportações mundiais do cereal.

O desenvolvimento do mercado externo para o trigo brasileiro abriria portas e necessidades de diversificação do produto. Ao seguir exigências internacionais, o padrão de produção melhora também no mercado interno.

O Brasil está apenas começando a trilhar esse caminho. Além da tradicional região de trigo no Sul, o plantio do cereal já se adapta bem na região do Distrito Federal e começa a ganhar espaço na Bahia e no Ceará. As pesquisas avançam também para as áreas de altitude do Piauí, do Maranhão, de Pernambuco e de Alagoas.

Ao dominar a tecnologia do trigo no cerrado, a Embrapa dá horizonte também para outros países com necessidades semelhantes.

O avanço do trigo está começando, mas já atrai a atenção de produtores e consumidores mundiais. Países africanos, como a Nigéria, já estão em contato com a empresa em busca dessa nova tecnologia.

O interesse pelo trigo e pela tecnologia brasileiros atinge países até pouco tempo inimagináveis nessa lista. Entre eles, a Coreia do Norte. O país quer experimentar a tecnologia brasileira com o trigo em seus campos de cultivo.

Vieira destaca também a qualidade que o produto brasileiro já atinge. Ela pode ser verificada, segundo ele, pelas compras dos Emirados Árabes, um importador extremamente exigente.

O Brasil é bastante dependente do trigo. Em geral, o volume importado supera o produzido. Neste ano, o consumo será de 12,5 milhões de toneladas, e a produção, de 6,8 milhões, segundo a Conab.

Vieira dá várias razões para que o país saia da dependência externa, atinja a autonomia e seja exportador líquido.

Área para o cultivo não falta. Ela pode chegar a 10 milhões de hectares. Os estados do Sul têm pelo menos mais 7 milhões que poderiam ser destinados à produção do cereal no inverno.

No cerrado, segundo ele, são mais 2,2 milhões de hectares disponíveis, com a possibilidade da ampliação dessa área com o avanço do melhoramento genético do produto.

Para Vieira, o país precisa seguir as diversas exigências do mercado, tanto as internas como as externas. Essas necessidades vão do trigo para pão e biscoitos até o para ração.

Surge uma nova demanda de ração para aves e suínos no Sul, onde se encaixa bem o triticale. Dependente cada vez mais do milho do Centro-Oeste, os estados do Sul podem substituir esse cereal pelo triticale na ração.

O trigo tem de ser produtivo, ter qualidade e gerar renda, segundo o pesquisador da Embrapa. Por isso, as pesquisas buscam cada vez mais dominar a brusone, uma doença típica nas culturas brasileiras, provocada por fungos que deixam os grãos chochos.

Uma das vantagens da lavoura brasileira, em relação à de outros produtores, é que o trigo brasileiro se desenvolve em um período próximo a 90 dias. Em outros países, são até 180 dias.

No Nordeste, a duração das lavouras é de 75 dias. Esse período reduzido faz com que produtores já façam experimentos para a obtenção de uma segunda safra no ano.

O clima do cerrado e do Nordeste pode reduzir também a micotoxina no trigo, provocada pelo fungos na fase de floração. Esses fungos aparecem no período de chuvas prolongadas e temperaturas altas.

A produtividade média brasileira é de 2.928 kg por hectare, de acordo com a Conab. No Paraná e no Rio Grande do Sul, maiores produtores nacionais, essa produtividade ficará em 2.950 kg nesta safra. No Nordeste, atingiu 5.700 kg, e, no Distrito Federal, 4.235 kg.

Algumas lavouras irrigadas já chegam a 8.500 kg no cerrado.

Fonte: Folha de S.Paulo

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