Nem recorde nem quebra de safra: o que está acontecendo com os grãos?

Setor
16/01/2024

O Brasil está às voltas com uma quebra de safra que pode impactar o PIB em 2024? Essa é uma das pautas de rodas de conversa entre especialistas e analistas do agronegócio nas últimas semanas. A EXAME mergulhou nos dados mais recentes para mostrar o que de fato está acontecendo com o mercado de grãos.

As estimativas da safra 2023/24 — cujo calendário agrícola vai de julho a junho — divulgadas no 4º levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na última semana, mostram a complexidade da atividade agrícola no Brasil. Com tantos números previstos, é importante esclarecer o que, de fato, o órgão espera para a temporada, compreendendo a realidade de cada cultura.

A Conab reduziu a expectativa do volume de grãos a serem colhidos em 2024, isto é, o montante total considerando diversos produtos, como soja, milho, arroz, feijão, trigo, algodão, cevada, entre outros.

Quando abarcadas todas estas commodities, a produção brasileira de grãos deve chegar a 306,4 milhões de toneladas. Se confirmado, o volume representa queda de 4,2%, ou seja, uma quebra de safra — quando certa quantidade de plantas não se desenvolvem e a colheita é menor — de 13,5 milhões de toneladas em relação a 2022/2023. O clima tem sido o fator mais relevante neste decréscimo.

Soja: quebra de safra x quebra de expectativa
Diante destes números, a pergunta que se faz é: qual o grão mais impactado em 2023/24? Ou ainda, qual o grão puxa para baixo a estimativa total da Conab?

Ao olhar a soja, principal commodity agrícola para o Brasil, o documento do órgão também mostra quebra de 4,2% — na expectativa, e não na safra em si. Isto significa que este percentual de redução mencionado pela Conab se refere às primeiras estimativas, feitas em outubro e novembro — e não é um comparativo com a safra 2022/2023.

Pelo contrário, a soja deve apresentar uma produção de 155,3 milhões de toneladas, ou 0,4% mais em relação à temporada passada. Com isso, “a estimativa da Conab [para soja] é superior à média dos últimos 11 anos”, segundo esclarece o órgão à EXAME.
Quando avaliada a produtividade — fator que no campo correlaciona velocidade de plantio e colheita, clima, variedade de sementes e tamanho da produção —, aí sim é esperado um decréscimo. A oleaginosa deve render 3.431 quilos por hectares, o que é 2,2% a menos que na safra passada. A falta de chuva para o desenvolvimento da soja implica diretamente no peso do grão.

Além disso, o empresário rural precisará se certificar das condições de armazenamento, para que a soja não perca ainda mais peso enquanto estiver guardada.

El Niño e as consequências ao milho

Parte da redução na estimativa dos grãos se justifica pela performance esperada para o milho. Segundo a Conab, o milho colhido deve atingir 117,6 milhões de toneladas, redução de 10,9% em relação a 2022/23.

A primeira safra do cereal, que representa 20,7% da produção, vem passando por situações adversas como excesso de chuvas nos estados do Sul e pouca chuva no Centro-Oeste. Ainda assim, no final de dezembro, o plantio alcançou 80,4% da área prevista de cultivo, pois o clima favoreceu tanto a implantação da lavoura como o desenvolvimento do milho.

Diante do atraso, à medida que o plantio costuma se encerrar entre meados de dezembro e janeiro, a produtividade da primeira também foi revista para baixo, influenciada pelas condições climáticas desfavoráveis, e está estimada em 6.144 kg/ha, 0,2% inferior à obtida em 2022/23.

Neste período, os efeitos do El Niño, sobretudo nas regiões do Centro-Oeste e Matopiba — acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — obrigaram os agricultores a estender a permanência da soja no solo.

Segunda safra

Em uma produção cadenciada, o milho segunda safra está suscetível ao ritmo da soja. Se a oleaginosa atrasa, como está acontecendo em 2023/24, o período de plantar o milho — também chamado de janela de plantio — fica mais curto. Este cenário também contribui para que a estimativa total de grãos tenha sido revisada.

“Nesse ponto é importante realçar a essencialidade do milho segunda safra para o abastecimento interno e exportação e a perspectiva de incremento de “novas” culturas como o sorgo, gergelim e, inclusive, o uso da área para amendoim, algodão, cana-de-açúcar e cobertura verde”, afirma a Conab.

Na prática, o produtor de milho acompanhará o calendário diariamente para que a lavoura cresça e apareça dentro do tempo esperado, que varia entre 90 e 110 dias, a depender da variedade da semente.

“A Companhia tem preocupação natural com a segunda safra, mas como exemplo, pode-se observar que o plantio da soja já atingiu o mesmo patamar da safra passada. Temos que acompanhar a evolução do plantio e da colheita da soja, para melhor posicionar a respeito do ‘milho segunda'”, afirma a Conab em nota.

Enquanto isso, além da redução da produção em 10,9% em relação a 2022/23, a área total de milho está estimada pela Conab em pouco mais de 21 mil hectares, 5,6% a menos que a safra passada. A produtividade cai o mesmo percual, para 5.596 quilos por hectare.

Fonte: Exame.

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