“O impacto não seria imediato, pois há estoques disponíveis. Além disso, apenas uma pequena parte das importações seria afetada, e o efeito se diluiria ao longo da cadeia produtiva, já que o trigo é, em grande parte, um insumo. Logo, a influência nos preços ao consumidor seria mínima”, diz Gilio. Fontes ligadas ao comitê criado pelo governo para discutir essas medidas disseram à EXAME que o corte no imposto sobre a importação do trigo é uma ação viável.
“Os países do Mercosul abastecem o Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste do Brasil. Já o Nordeste e o Norte dependem do trigo importado do Hemisfério Norte”, explica um interlocutor.
O Brasil consome, em média, 12,8 milhões de toneladas de trigo por ano, sendo que mais da metade desse volume vem de outros países. Em 2024, o país importou 6,6 milhões de toneladas, um aumento de 59% em relação a 2023. A Argentina foi responsável por 63% das exportações para o mercado brasileiro.
Para Gilio, o governo deveria focar em reduzir custos de produção e solucionar gargalos internos que prejudicam a produtividade e os preços, como logística e infraestrutura.
“Redução de perdas na produção, ampliação do crédito subsidiado para investimentos produtivos e ações sobre insumos são fatores essenciais. Além disso, grande parte dos insumos agrícolas é importada e, com a taxa de câmbio atual, os custos seguem elevados. O problema é que o governo busca ações imediatistas”, diz o pesquisador.
O Brasil mantém uma cota anual de até 750 mil toneladas de trigo importado de fora do Mercosul com tarifa zero. Acima desse volume, incide uma taxa de 10%, além da tarifa da Marinha Mercante. O compromisso foi firmado com a Organização Mundial do Comércio (OMC) para garantir a oferta, mas fontes do governo negam a retirada da tarifa de importação.
Procurada, a Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), entidade que representa o setor produtivo, informou à EXAME que só comentará a medida após sua publicação oficial pelo governo.
Crise na Agricultura
A pressão de Lula por medidas para reduzir o preço dos alimentos tem recaído principalmente sobre o Ministério da Agricultura, comandado por Carlos Fávaro. Nesta semana, especulações indicavam que o ministro poderia deixar o cargo em razão de conflitos com a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA).
Embora a informação não tenha sido confirmada pela pasta, interlocutores afirmam que a posição de Fávaro é delicada, já que ele resiste em adotar medidas heterodoxas para conter a alta dos alimentos.
Lula, por sua vez, nunca fez críticas públicas ao ministro. Pelo contrário, o presidente confia em sua gestão à frente da Agricultura, segundo fontes ligadas à pasta.
Deixe sua opinião