Para encerrar a programação de palestras do 32º Congresso Internacional da Industria do Trigo, no Rio de Janeiro, o vice-presidente do Negócio Trigo da Bunge na América do Sul, Junior Justino mediou o painel “O mercado do trigo”. O encontro reuniu o especialista em trigo da Safras&Mercado, Elcio Bento, o consultor Pablo Maluenda e o chefe da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski.
Maluenda iniciou o painel com um panorama global do setor, analisando os fatores que levaram à queda dos preços neste ano. Segundo ele, o recuo está ligado à boa produção mundial, com destaque para a Argentina, que deve registrar uma safra recorde. Outros elementos incluem a guerra comercial entre Estados Unidos e China, além das supersafras de soja e milho no país norte-americano, que pressionará os custos de armazenagem.
O especialista também apontou que grandes produtores, como Rússia e Estados Unidos, já começaram a migrar para outras culturas. Embora o clima tenha sido favorável globalmente neste ano, ele se mostra cada vez mais instável, reflexo das mudanças climáticas. A pressão para exportar se intensifica sobre países como Argentina e Rússia, enquanto o excesso de oferta persiste, com volumes crescentes de trigo nos principais países exportadores.
Como avaliou Maluenda, a recuperação dos preços dependerá de fatores geopolíticos, como um possível acordo entre China e Estados Unidos. “Se isso ocorrer, os preços podem reagir”, afirmou.
Elcio, por sua vez, avaliou o mercado interno. De acordo com ele, a formação dos preços do trigo no Brasil se baseia em uma dinâmica sustentada por três pilares: a produção nacional — que exige atenção aos movimentos de escassez (paridade de importação) e de excedente (paridade de exportação) —, o câmbio e os preços internacionais. Estes dois últimos são determinantes para os patamares das paridades.
“Quando ocorrem distorções nos preços, geralmente é reflexo de excesso ou escassez na produção. Essa lógica também se aplica ao mercado brasileiro, que pode ser interpretado a partir desse tripé: produção local, paridade de exportação e paridade de importação. A produção interna indica se o país está em condição exportadora, como quando estados do interior precisam direcionar o trigo ao mercado externo, ou importadora, como ocorre em São Paulo e Paraná, que, durante a entressafra, recorrem fortemente às compras internacionais”, detalhou.
Nesse cenário, o preço praticado no mercado interno tende a acompanhar o valor de referência do trigo importado, ou seja, dificilmente ultrapassará o custo da paridade de importação. Essas referências, contudo, são diretamente afetadas pela taxa de câmbio e pelas oscilações do mercado global. Com a recente desvalorização dos preços internacionais, ambos os vetores (moeda e cotação externa) têm pressionado os preços domésticos para baixo.
Ao também analisar o mercado brasileiro, o representante da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, afirmou que o país reúne os elementos necessários, como terra, tecnologia e capacidade produtiva, para alcançar a autossuficiência e se tornar mais competitivo. “O desenvolvimento científico nacional avança em genética e manejo para enfrentar os desafios fitossanitários, especialmente os provocados pela brusone e pela giberela, e a cadeia produtiva pode contribuir com maior agilidade na adoção dessas soluções”, exemplificou.
O trigo, como cultura de inverno e de baixa emissão, segundo ele, é considerado uma opção descarbonizante. Sua expansão, portanto, representa uma oportunidade estratégica com impactos positivos nos âmbitos econômico, ambiental e social. “O trigo brasileiro tem potencial para se tornar parte relevante da segurança alimentar global”, frisou.
Como parte da estratégia para fortalecer a sustentabilidade da cultura, ele destacou a apresentação do projeto “Trigo Baixo Carbono”, desenvolvido pela Embrapa. A iniciativa está alinhada às principais tendências de mercado, às demandas dos consumidores, à busca por diferenciação competitiva e ao compromisso com práticas agrícolas mais responsáveis do ponto de vista ambiental.
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