Sem serviços e restaurantes nas estradas, caminhoneiros pedem apoio

Setor
26/03/2020

Diversos relatos de caminhoneiros nas redes sociais e em grupos de WhatsApp apontam que não há em diversas regiões do interior do país condições mínimas para manter o transporte de mercadorias, sobretudo por causa de ações restritivas ao tráfego de pessoas e veículos. Borracharias, lojas de peças e serviços de mecânicos, por exemplo, não foram enquadrados como essenciais e, portanto, não podem abrir diante do Decreto 10.282 publicado em 20 de março. O fechamento de restaurantes é outro entrava apontado pelos motoristas.

“Não temos onde comer. A caixa de cozinha dos caminhões quebra um galho, mas não dá para estocar comida. Não temos onde tomar banho. Não dá para continuar viagem”, diz o caminhoneiro Ilizeu kosooski , de Garibaldi (RS), que chora em vídeo que circula em vários grupos. No depoimento, ele afirma que um restaurante conhecido de beira de estrada em Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro, estava aberto e ontem ele conseguiu almoçar. Mas após às 16 horas a Vigilância Sanitária do Estado mandou fechar o estabelecimento. “Eu estava me programando para jantar lá e seguir viagem. Mas disseram que eles têm que ficar de portas fechadas.”

Veja trechos do vídeo com a mensagem do caminhoneiro.

O mesmo relato é feito por diversos motoristas, em estradas diferentes. “Não tem onde tomar banho”, diz um áudio que circula em redes sociais. “Não sou bicho para ficar sem banho”. Outra preocupação de todos é com o pedágio, porque a maioria paga os operadores com dinheiro em espécie e enxergam ai um foco de disseminação de coronavírus.

Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, afirmou ao Valor que está sendo cobrado para entregar materiais hospitalares com urgência para a Secretaria da Saúde do Maranhão, mas está com medo de seguir viagem. “Estou carregado de máscaras, luvas e outros materiais essenciais para este momento. Mas não posso ir até o Maranhão e passar fome. Se é para morrer de fome, fico com minha família e morro abraçado”, diz ele, que é de Curitiba (PR). Dedeco saiu de Araquari, em Santa Catarina, no sábado e, se tudo der certo, pretende chegar em São Luis amanhã.

“Estamos vendo justas homenagens para médicos, enfermeiros e até profissionais de limpeza. Mas se nós pararmos, nenhum deles come. E também não há combustível para o transporte de doentes”, completa. Dedeco diz ter passado vários áudios para o Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. Outros caminhoneiros fizeram o mesmo, mas não foram respondidos. A reportagem tentou contato com o ministro e não obteve resposta.

Em vídeo em que participa de uma videoconferência com Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Consud) com os governadores de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais na segunda-feira, o ministro pediu a abertura das estradas e apoio aos caminhoneiros.

No encontro virtual, Freitas recomendou que os governadores dialoguem com prefeitos para garantir a livre circulação de produtos e, por consequência, o abastecimento das cidades. Segundo ele, borracharias, oficinas e pontos de alimentação devem ser entendidos como serviços essenciais.

O ministro admitiu, também, estar recebendo muitos relatos de motoristas que não conseguem prosseguir viagem. “Estou em 70 grupos de WhatsApp, com uma média de 200 motoristas por grupo, e todos relatando dificuldades. Se o transporte de cargas parar, teremos o efeito da greve de 2018 somado ao coronavírus”, afirmou o ministro.

Na semana passada, o ministério da Infraestrutura instituiu o Conselho Nacional dos Secretários de Transporte. Entre outras deliberações, esse conselho definiu que “decretos estaduais que suspendem atividades econômicas estão sendo ajustados para garantir serviços essenciais ao setor rodoviário, como borracharias, oficinas e pontos de alimentação nas rodovias. O ministério informou que Estados como Espírito Santo, Maranhão, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Alagoas e Bahia já editaram novos decretos para evitar a restrição ao transporte de carga.

 Fonte: Valor Econômico

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