Renda menor e câmbio pressionam setor de alimentos

Coronavírus
04/06/2020

A M. Dias Branco, maior fabricante de biscoitos e massas do país, e a Mondelez, uma das maiores fabricantes de chocolates e líder em suco em pó, balas e gomas, preveem um cenário mais difícil de consumo no país no segundo semestre.

A queda na renda das famílias e a forte desvalorização do real em relação ao dólar são os principais fatores que devem pressionar o consumo de alimentos na segunda metade do ano, na avaliação das companhias, que participaram ontem de Live do Valor. “Estamos prevendo um segundo semestre mais difícil em função da redução da capacidade de consumo da população. Os economistas falam em uma queda no PIB [Produto Interno Bruto] de 5% a 7% no ano.

Estamos prevendo tempos mais difíceis no médio prazo”, disse Gustavo Theodozio, vice-presidente de investimentos e controladoria da M. Dias Branco.

Para Liel Miranda, presidente da Mondelez Brasil, uma combinação de recessão e desvalorização cambial irão restringir o poder aquisitivo do consumidor. “Do lado da indústria, a alta do dólar terá impacto nos custos de produção, o que vai nos obrigar a redirecionar capacidade de produção e investimentos”. Miranda observou que a desvalorização cambial gira em torno de 25% neste ano e que “ é impossível para as indústrias absorver esse custo. E em um cenário de recessão fica muito difícil reajustar preços”.

Pelo menos três comportamentos de consumo ganharam força durante a pandemia de covid-19 e devem permanecer, fazendo parte do “novo normal”: o comércio on-line de alimentos, o hábito de cozinhar e comer em casa e a preferência por marcas fortes.

“Durante a pandemia, o consumidor fica mais fiel às marcas consolidadas e fortes”, disse Miranda. Antes, o consumidor passava mais tempo no supermercado e tinha tempo de explorar um lançamento, uma marca nova. “Agora, ele busca eficiência na compra e prefere marcas que conhece. Percebemos isso nos Estados Unidos e na Europa, onde nossas marcas fortes crescem”, disse.

Outra tendência é a venda on-line. “Em 2019, as vendas on-line foram 1% do volume vendido na Páscoa. Neste ano foi 8%. Foi um grande aprendizado e que deve permanecer”, disse Miranda.

Outra tendência que veio para ficar é o hábito de cozinhar em casa. “As pessoas ainda vão ter medo de sair de casa por causa do risco de contaminação. As pessoas devem ficar mais tempo em casa do que antes da pandemia. E, no caso do Brasil, como haverá uma limitação de renda nas famílias, cozinhar em casa seguirá como uma opção mais barata do que ir a um restaurante”, afirmou Theodozio.

As duas companhias revisaram seus planos para este ano, por conta da covid-19. A M. Dias Branco, dona de marcas como Vitarella, Adria, Piraquê e Richester, suspendeu o plano de expansão internacional.

“Faz parte dos planos da companhia a expansão internacional, começando pela América do Sul, com a exportação de produtos e, futuramente, por meio de fusões e aquisições ou expansão orgânica. Esse projeto deixamos em espera agora. É momento de proteger o caixa”, disse Theodozio. Já o plano de expansão regional da marca Piraquê, com vendas muito concentradas no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, está mantido.

A Mondelez prevê fechar o ano com uma “pequena queda” de vendas. A M. Dias Branco disse que suas vendas cresceram em março e abril.

Fonte: Valor Econômico

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