Preço do trigo subiu e moinhos temem ter que importar de fora da Argentina

Abitrigo
02/04/2020

A baixa oferta de trigo no mercado nacional e a maior procura por derivados neste período de quarentena têm elevado as cotações do cereal no mercado doméstico, de acordo com informações do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea). Em março, o indicador EsalqCepea para a tonelada negociada no Paraná subiu 13,2%, para US$ 215,55.

Os impasses logísticos nos portos argentinos e nas rodovias brasileiras tendem a dificultar novas compras e o recebimento do cereal já contratado, segundo o Cepea. Além disso, há temores dos moinhos que o governo argentino restrinja a comercialização do cereal como medida econômica e/ou para garantir o abastecimento interno em temos de coronavírus.

Em função desses temores e para conhecer o volume que os exportadores argentinos têm disponível, representantes da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo) e cerca de 70 indústrias e analistas participaram de uma teleconferência ontem. “O recado dos argentinos foi que não faltará trigo”, resumiu o ex-embaixador Rubens Barbosa, presidente a entidade.

Mas essa não foi a percepção de todos os participantes. Um corretor de trigo afirmou: “Ficou claro que vai faltar 1,5 milhão de toneladas para o mercado brasileiro até o fim do ano”.

Isso porque, explicou, os exportadores do país vizinho já comprometeram toda a colheita, mesmo sendo um recorde previsto por algumas consultorias em 21 milhões de toneladas. “E se eles tiverem o trigo, mas o governo proibir as vendas?”, questiona o mesmo corretor.

O Brasil já foi responsável por 85% das importações de trigo da Argentina. Hoje, com a diversificação feita pelas tradings do país, que passaram a vender principalmente para a Indonésia, o Brasil passou a absorver 65% do total.

Nesse sentido, e para evitar problemas, a Abitrigo solicitou à Câmara de Comércio Exterior (Camex) que se estenda o prazo para as empresas brasileiras fixarem as cotas que desejam importar de trigo com isenção de Tarifa Externa Comum (TEC). O prazo estabelecido no momento é de 31 de maio, que permite que os moinhos comprem até 750 mil toneladas de fora do Mercosul sem a tarifa.

Mas, segundo Barbosa, os moinhos estavam abastecidos no começo deste ano e não precisaram comprar. “As empresas vão voltar ao mercado agora em abril e maio e precisarão de um tempo maior para o registro”, afirmou.

O presidente da Abitrigo também disse ter solicitado ao Ministério da Agricultura que amplie essa cota de importação sem TEC até o fim do ano. “Não vai faltar trigo no país, independentemente do fornecimento da Argentina porque há muitos fornecedores mundiais. Mas é melhor termos meios de importar sem custos tão elevados”, afirmou, citando o câmbio como um fator já pressionador dos preços.

Fonte: Valor Econômico

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