Pandemia trará mudanças permanentes no trabalho e nas relações de consumo, diz Giannetti

Coronavírus
11/06/2020

A humanidade já enfrentou experiências muito traumáticas. Somente no século XX foram duas guerras mundiais e a gripe espanhola, que teve efeito devastador, com a morte de 50 milhões a 70 milhões de pessoas. Embora não mude a natureza humana, um trauma como essa pandemia, que traz uma situação inesperada, com paralisação da economia e grande insegurança sobre o futuro, certamente traz mudanças permanentes no mundo do trabalho, do consumo, provavelmente terá impacto em relação a preferência temporais e talvez em valores.

A opinião é do economista e escritor Eduardo Giannetti, que participou de live mediada pelo Valor no encerramento do evento “Next Banking Generation”, patrocinado pela IBM. O raciocínio indutivo sugere fortemente, diz ele, que uma grande crise parece muito pior enquanto está acontecendo do que quando, uma vez ultrapassada, se olha para trás e se avalia o que aconteceu. “Há um viés natural de superestimação da gravidade e do impacto daquilo que nós estamos vivendo.” Ele compara a situação com um avião em turbulência na qual as pessoas rezam, fazem promessas e reveem. Mas depois que o avião pousa “elas percebem que não era o fim do mundo”. A crise atual é da maior seriedade, destaca ele. “Mas daqui a alguns meses ou anos é altamente provável que tenhamos uma perspectiva diferente do que foi tudo isso.”

Entre as mudanças permanentes que devem vir com a pandemia, destaca Giannetti, algumas estão no campo do trabalho. O uso de tecnologias digitais para atividades remotas já vinha caminhando em câmera lenta, lembra. A covid-19, diz, acelerou esse processo. O que não demandar interface direta com o público, indica, será exercido de outra maneira, com mais flexibilidade de tempo, em outro local. Isso, explica, tem implicações enormes. “Vai haver uma superoferta de imóveis comerciais e ao mesmo tempo as pessoas vão repensar seu ambiente domiciliar.” Ele também menciona impactos na mobilidade urbana e no tráfego de veículos, já que o novo cenário poderá mudar a necessidade de deslocamentos.

O varejo online é outra realidade que se expandiu de forma irreversível, inclusive para bens de consumo duráveis. Em serviços financeiros, o impacto é tremendo. “Sempre me chamou atenção a presença desproporcional de agências bancárias no ambiente urbano brasileiro. O mundo das finanças se presta como nenhum outro à digitalização.” Isso, avalia, terá impacto no espaços físicos, mas também no emprego, com a substituição do atendimento de funcionários bancários pela inteligência artificial. Na educação, a aula presencial é importante. Ele acredita, porém, que o ensino presencial será mais valorizado, talvez com a redução do tempo do professor numa sala de aula fechada.

Fonte: Valor Econômico

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