Moinhos preveem cota maior de importações de trigo

Setor
10/03/2022

O aumento da cota isenta de tarifa externa do Mercosul para compras de trigo em países fora do bloco comercial é uma opção em caso de necessidade por desdobramentos da guerra na Ucrânia, afirmou nesta terça-feira a associação que representa as indústrias processadoras do Brasil (Abitrigo). Atualmente, o setor no Brasil, um dos maiores importadores globais de trigo, paga uma taxa de 10% para importações que excedem uma cota de 750 mil toneladas ao ano isenta de tarifa.

“Reforçamos que a Abitrigo não pedirá um aumento desse volume (da cota), mas que esse assunto pode voltar à tona caso a situação de fornecimento piore. Nesse caso, entendemos que o governo poderia ter de examinar a possibilidade de isentar a TEC de volumes acima daquela tonelagem”, disse o presidente da Abitrigo, Rubens Barbosa, em nota nesta terça-feira.

A afirmação foi feita em momento em que o mercado em Chicago opera em máximas, após subir mais de 35% desde o início da guerra, diante de temores de escassez no mundo por conta do conflito no Leste Europeu, grande fornecedor do cereal.

Em 2020, quando a oferta apertou no Mercosul, a indústria brasileira foi contemplada com uma cota adicional, o que elevou o volume anual isento de taxa para 1,2 milhão de toneladas.

Os Estados Unidos são, em geral, os maiores fornecedores do Brasil fora do Mercosul, e tendem a se beneficiar de uma cota adicional sem tarifa. Os moinhos brasileiros adquirem a maior parte de suas necessidades dos parceiros comerciais Argentina, Uruguai e Paraguai, que vendem com isenção de taxa.

Em 2020, quando a cota extra vigorou, o Brasil importou 733 mil toneladas dos EUA, além de 237 mil toneladas da Rússia, e outras 115 mil toneladas do Canadá, com os países do Mercosul respondendo pela maior parte da oferta externa adicional. Naquele ano, o Brasil importou 6,16 milhões de toneladas, segundo dados do governo.

Em 2021, quando o Brasil colheu uma safra recorde, as importações dos EUA somaram somente 90 mil toneladas, enquanto russos venderam 28 mil toneladas, com a Argentina abocanhando uma parcela maior, de quase 5,5 milhões de toneladas.

O sensível tema, uma vez que agricultores brasileiros podem perder oportunidades de negócios com o trigo trazido de fora do Mercosul, foi mencionado em uma nota da Abitrigo que revelou um encontro com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, na última quinta-feira, para discutir a forte alta do cereal no mercado global.

O Brasil praticamente não compra trigo da Rússia e não registra importações do produto ucraniano, mas um eventual aperto na oferta brasileira, como efeito da guerra, não é descartado.

Primeiro porque a Argentina, tradicional e grande fornecedor do Brasil, pode vir a atender mercados que eram clientes dos países do Leste Europeu; segundo, pelo fato de o Brasil, por si só, estar exportando volumes recordes, com negócios recentes também relacionados aos efeitos do conflito.

Repasse de custos

O aumento da produção do grão no Brasil foi um dos assuntos debatidos na reunião com a ministra. A Abitrigo reforçou a importância do apoio do governo ao projeto da Embrapa, que visa a ampliação da área plantada no norte do Cerrado.

O executivo também fez uma exposição quanto às perspectivas e os impactos da situação para o mercado do trigo, e comentou que o repasse de custos do cereal pode ser inevitável.

“Ressaltamos a nossa preocupação com o substancial aumento do preço e o peso que isso representa para a indústria. Mencionei ainda que cada empresa decidirá o que fazer, mas assinalei que seria difícil evitar algum repasse para o preço da farinha”, disse ele.

Fonte: Globo Rural

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