Menor safra aliada a demanda aquecida deve pressionar estoque de trigo na Europa

Setor
14/07/2022

Nas últimas semanas, o cenário de redução da atividade econômica e liquidez global foi um dos principais fatores por trás da queda dos preços da maioria dos grãos nas mais diversas bolsas.

Contudo, quando se olha para os fundamentos do trigo no Continente Europeu, se vê que o balanço do grão estará extremamente apertado na próxima safra. “A safra francesa, que vinha com ótimas condições até a metade de maio, tem sofrido com falta de chuvas e uma onda de calor que atingiu o Continente Europeu antes do previsto. Com isso, a oferta de trigo no continente deve ser cerca de cinco milhões de toneladas menor do que a da safra passada, com uma redução tanto da produtividade quanto da área colhida”, observa o analista de grãos e macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets, Alef Dias.

Segundo o analista, mesmo com a menor oferta, a demanda externa pelo trigo europeu deve superar a da safra anterior, dado que o conflito na Ucrânia tornou o trigo europeu mais competitivo que o russo, tanto pela ótica dos preços e fretes, bem como pela dinâmica cambial.

Responsável por cerca de 24% da produção de trigo na União Europeia (EU), a França é a principal produtora da commodity dentro do bloco, sendo o mercado mais relevante para os movimentos do trigo na Euronext. Após um início de safra com boas condições de precipitação e temperatura para o trigo, o nível das chuvas em território francês começou a cair a partir da segunda metade de maio, levando a uma relevante deterioração das condições para a cultura no país.

Não bastasse a redução das chuvas, o Continente Europeu foi atingido por uma onda de calor em junho que chegou à região muito antes do que o esperado, com base em anos anteriores. Com temperaturas que chegaram a ultrapassar os 40ºC, a península Ibérica, Itália e a França foram as regiões mais afetadas – o que adicionou riscos à safra europeia de trigo após a primavera seca, dado que somadas, França, Espanha e Itália representam mais de 30% da produção de trigo europeia.

Como podemos observar na figura 3, essa deterioração também é perceptível no índice da vegetação francesa – que serve como uma proxy
da saúde dos grãos – que recentemente se aproximou das mínimas de 20 anos. Com essa situação complicada em seu principal produtor, a Europa deve confirmar sua expectativa de uma safra de trigo menor do que a do último ano, e as estimativas da Comissão Europeia apontam para uma redução da produção mais acentuada do que a atualmente esperada pelo USDA.

Com a continuidade da guerra, exportações devem aumentar Apesar de contar com uma menor oferta de trigo, a continuidade do
conflito na Ucrânia deve direcionar a demanda antes atendida pelo Mar Negro para as nações europeias, cujas exportações devem superar os níveis observados na safra anterior.

Os primeiros números de importação da safra 2022/2023 de alguns dos principais importadores de trigo globais tem confirmado essa tendência. As exportações de trigo mole (soft wheat) da França para países fora da UE quadruplicaram em junho com relação ao mesmo período do ano passado, atingindo 552mil toneladas, indicam dados provisórios.

O principal mercado de exportação foi o Marrocos, que levou cerca de 209 mil tons em junho, enquanto a Argélia e o Egito levaram 89 mil toneladas e 77 mil toneladas, respectivamente. Os compradores do norte da África retomaram as compras de trigo francês após um baixo interesse no início da safra 2021/2022.

Apesar da menor produtividade esperada, o trigo francês segue relativamente barato com relação ao trigo russo – seu principal competidor por mercados externos – mesmo com a safra recorde esperada para o maior exportador de trigo global.

Além disso, o frete do trigo francês para os principais importadores também está em níveis extremamente competitivos em relação ao
grão russo, o que também é um reflexo da guerra, dada as sanções do ocidente à Rússia, que dificultam a logística exportadora do país.
Além dos fretes, a dinâmica cambial do Euro e do Rublo também tende a favorecer as exportações francesas.

Apesar dos cortes recentes em nas taxas de juros russas, o USD/RUB segue nos menores níveis do período pandêmico, enquanto o EUR/USD atingiu o menor patamar dos últimos 20 anos – e conforme relatório da nossa equipe de análise macroeconômica do dia 01 de julho, os fundamentos apontam para uma continuidade do processo de desvalorização do Euro.

Fonte: O Presente Rural

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