Farinha de trigo deve subir, com o preço elevado do grão. Alta pode atingir pão, massas e biscoitos

Setor
16/11/2021

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu em 500 mil toneladas a estimativa para a safra brasileira de trigo. No relatório refrente à safra 2021/2022, divulgado na quinta-feira (11/11), a previsão de colheita passou para 7,688 milhões de toneladas. A anterior, de outubro, era de 8,190 milhões. Mesmo com a redução, a safra deve ser recorde e maior que a do ano passado (6,245 milhões de toneladas). Mas não deve representar um alívio, já que o preço não baixou, como ocorre na época de colheita na região sul, que produz 90% do trigo nacional e já colheu mais de 60% da safra.

A redução na estimativa aumenta a pressão sobre os moinhos brasileiros, que já trabalham com margens apertadas desde 2020 e enfrentam dificuldade de repassar os aumentos do cereal. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP, o trigo teve uma alta média de 25% neste ano, mas os repasses ficaram em 12%.

Representantes da indústria e analistas de mercado divergem sobre quando o consumidor do pãozinho, da farinha, do macarrão e dos biscoitos vai receber a conta pelo trigo mais caro, que representa cerca de 75% dos custos da indústria, mas concordam que o repasse tem que ser feito porque o setor já opera com defasagem.

Rogério Tondo, presidente do Sindicato das Indústrias de Trigo do Rio Grande do Sul (Sinditrigo-RS) e dono do moinho Orquídea, diz que a defasagem é de 20% a 25% e que o repasse deve ocorrer nos próximos dois meses, apesar de a demanda estar mais baixa que o normal devido ao menor poder aquisitivo da população.

Ele afirma que a pressão sobre o setor moageiro é maior neste ano porque, embora o preço do trigo já tenha subido bastante no ano passado, os juros estavam bem mais baixos. A Selic, taxa básica de juros da economia, fechou 2020 com 2% ao ano e agora está em 7,75%. “Para se ter uma ideia, hoje o empresário paga de 14% a 15% por financiamento para capital de giro.”

Daniel Kümmel, presidente do Sinditrigo do Paraná e CEO do Moinho Arapongas, calcula uma defasagem atual de 10% a 15% que precisa ser repassada nos próximos meses. “O fato é que o trigo subiu muito mais que a farinha e nós temos ainda aumentos de energia, fretes que dobraram, alta das embalagens e os acordos trabalhistas, que devem elevar os salários entre 8% e 10%.” Segundo ele, os moinhos paranaenses compravam trigo a R$ 950 no início de 2020 e hoje estão pagando R$ 1.700 pela tonelada.

O Paraná, maior produtor e parque moageiro do país, com 67 indústrias, atrasou o plantio e teve uma queda de produtividade e qualidade do trigo nesta safra devido ao clima, que levou a um empate de produção com o Rio Grande do Sul. “O Estado processa de 3,6 milhões a 3,7 milhões de toneladas por ano e a produção não chega a isso neste ano. Temos que importar mais trigo do Rio Grande do Sul, do Paraguai e da Argentina.”

Para Paloma Venturelli, presidente do Moinho Globo, do Paraná, a conta para o consumidor da farinha vai chegar logo porque o setor já não consegue absorver tantos aumentos. Ela conta que comprava trigo a R$ 1.200 no final do ano passado e agora os produtores não estão entregando por menos de R$ 1.600. “Em vez de queda da tonelada neste mês, como esperávamos, houve um aumento”, lamenta.

Alexandre Sales, dono do moinho Santa Lúcia, no Ceará, diz que tem repassado gradativamente os aumentos de acordo com o preço do trigo, dos fretes e da valorização do câmbio. Diferentemente da região sul, que é abastecida prioritariamente pela produção nacional, o Nordeste importa da Argentina a maior parte do cereal que processa.

Fonte: Globo Rural

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