Embrapa vai colher em agosto o primeiro trigo transgênico no Brasil

Setor
28/06/2022

Em um cenário de crescimento da demanda e de aumento dos preços internacionais do trigo, pesquisadores da Embrapa se preparam para colher no Brasil, em agosto próximo, as primeiras plantas de cereal geneticamente modificado. O plantio do grão com o gene HB4, desenvolvido para ser mais tolerante ao déficit hídrico, foi feito no final de março em uma área controlada da Embrapa de 70,8 metros quadrados em Brasília, em parceria com a empresa argentina de biotecnologia Bioceres.

A semeadura de três cultivares de trigo BRS desenvolvidas para o ambiente tropical do Cerrado com o gene da Bioceres foi autorizada em 15 de março deste ano pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, depois de duas rejeições, em 2017 e 2019.

Essa e outras pesquisas sobre trigo devem ser debatidas de terça a quinta-feira (28 a 30/6), no Fórum Nacional do Trigo 2022, durante a 15ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, em Brasília.

Segundo Ricardo Lima de Castro, pesquisador de recursos genéticos e melhoramento vegetal da Embrapa Trigo, a empresa trabalha com pesquisas de transgenia em trigo desde 2010, conduzindo testes em laboratório e casas de vegetação para identificar genes capazes de resolver os principais problemas da cultura no Brasil, como as doenças causadas por fungos e estresses ambientais, mas os resultados ainda são preliminares, limitando-se a estudos em ambientes controlados.

A tecnologia do HB4, que recebeu o nome Eco Wheat, está sendo desenvolvida de modo integrado com um fungicida biológico e um inseticida biológico, com apelo de maior sequestro de carbono. O gene é originário do girassol (Helianthus annuus) e pesquisas apontam que ele gera mais tolerância a condições extremas e também intermediárias de déficit hídrico.

Castro afirma que ainda não é possível prever ganhos em aumento de produtividade do trigo em função da transgenia com este gene HB4, mas pesquisas realizadas em outros países indicam ganhos em rendimento de grãos variando de 2% a 41%, sendo a média de 19,3%. “Nossa expectativa é encontrar pelo menos ganhos semelhantes nas condições brasileiras”, diz o especialista, acrescentando que o gene HB4 acelera os resultados da pesquisa para as condições de cultivo de trigo tropical no Cerrado.

Na região Centro-Oeste, a escassez de água limita a expansão da cultura, estimada atualmente em 200 mil hectares, mas com potencial para atingir 4 milhões de hectares, sendo 1,5 milhão para o cultivo irrigado e 2,5 milhões para cultivo de sequeiro.

Na colheita do grão transgênico em agosto, os pesquisadores da Embrapa Trigo e Embrapa Cerrados vão avaliar as plantas com melhor desempenho e resultados potenciais. Um novo experimento está previsto para as próximas safras até que seja possível confirmar os benefícios ou as limitações na produção do trigo com o gene HB4 no Brasil.

Os primeiros resultados de pesquisa deverão estar disponíveis em três anos, mas, mesmo se forem bons, o cultivo de trigo transgênico em escala comercial no Brasil dependerá ainda de definições legais e de critérios comerciais, como o pagamento de royalties para a empresa detentora do gene.

Castro acredita que a pressa para atender rapidamente o aumento na oferta de alimentos no mundo pode acelerar a aceitação do trigo transgênico pelo consumidor, principalmente, no mercado europeu. “Questões como mudanças climáticas também afetam a produção e podem encontrar na transgenia a melhor adaptação das plantas em ambientes adversos.”

Fonte: Globo Rural

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