Economistas debatem os impactos econômicos da Covid-19 nas indústrias, durante videoconferência promovida pela Abitrigo

Abitrigo
17/04/2020

Os impactos econômicos da Covid-19 nas indústrias foram debatidos na tarde da quinta-feira, 16 de abril, em videoconferência promovida pela Abitrigo, com a participação do economista do Banco Votorantim, Roberto Padovani e do também economista e gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria – CNI, Renato da Fonseca.

A reunião online, que contou com a moderação do presidente-executivo da associação, Rubens Barbosa, teve como objetivo apresentar aos associados um panorama do cenário econômico nacional, na visão dos dois convidados, que trouxeram suas percepções quanto ao momento atual e as expectativas para os próximos meses.

Padovani iniciou sua análise apresentando um breve histórico de como a pandemia foi sentida pelo país no começo do ano. “Inicialmente acompanhamos o que estava acontecendo nos outros países e, com a chegada do vírus ao Brasil e o isolamento social tivemos um momento de pânico inicial, que já foi acalmado em março, mês que passamos a conhecer a doença e entender um pouco mais sobre sua evolução”, destacou.

Apesar de acreditar que o mercado está aos poucos se acalmando, ele entende que este momento é algo inédito na história econômica mundial. “O FMI projeta uma recessão mundial na casa dos 3%, cenário que não é visto desde 1929. Nunca vivemos uma parada súbita assim.  Boa parte da volatilidade do mercado hoje é resultado da dificuldade de prever como será a evolução da economia nos próximos meses”, explica Padovani.

Ele explicou que desenhou cenários diferentes para este ano, sempre olhando para o que foi registrado na Ásia e na Europa. “A perspectiva para a economia brasileira depende do tempo que teremos o confinamento. Estamos trabalhando com a previsão de que esse movimento se estenda até o final de abril e que não tenhamos uma segunda onda de contágio no país”, salienta.

Segundo essa previsão, Padovani afirma que o mês de abril será muito ruim para a economia como um todo, mas ele acredita em uma melhora e retomada a partir de setembro. “Estou prevendo uma recessão na casa dos 2,5% a 3% para o Brasil. As medidas do governo serão fatores muito importantes para este cenário. Temos como desafio as pequenas e médias empresas, pois muitas não suportarão a pressão, mas teremos que fazer o crédito chegar a elas para que possam se manter abertas”, acrescenta.

Visão da Indústria

Menos otimista quanto à recuperação do mercado, o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca destacou que no melhor dos cenários teríamos um movimento como a parada da greve dos caminhoneiros, mas essa não é a perspectiva. “Sabemos que a volta ao ‘normal’ será mais lenta”, comenta.

Segundo ele, em uma pesquisa promovida pela entidade, 9 em cada 10 empresas consultadas indicaram já terem sido impactadas de alguma forma com a crise gerada pela pandemia da Covid-19. Entre os pontos de impacto,metade delas afirma que foi pela paralisação do mercado e a outra por questões logísticas, principalmente de insumos.

Ele também indicou uma outra preocupação das indústrias em relação à retomada do trabalho. “Se volta todo mundo ao mesmo tempo, sem testes dos funcionários, podemos ter uma segunda onda de contaminação, o que significará um prejuízo ainda maior para o mercado”.

Outro dado apresentado por ele foi o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), divulgado esta semana e que indicou uma queda de 25,8 pontos entre março e abril, registrando 34,5 pontos, o menor índice da série histórica. Até então, a maior queda registrada em um único mês havia sido de 5,8 pontos, ocorrida em junho de 2018, como consequência da greve dos caminhoneiros. Cabe ressaltar que a queda em abril ocorre após redução de 4,4 pontos ocorrida em março e de 0,6 ponto em fevereiro. Entre janeiro e abril, o ICEI recuou 30,8 pontos.

“Também acredito que teremos um mês de abril muito ruim, com quedas muito grandes no mercado. No melhor dos cenários podemos dizer que teremos uma retomada nos números, semelhantes aos níveis que registamos no início deste ano, até o final de 2020”, finaliza.

Deixe sua opinião