Cerrado deve somar 300 mil toneladas à produção de trigo do Brasil até 2025

Abitrigo
29/03/2022

No momento em que o mundo discute os riscos da segurança alimentar provocados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, dois dos maiores produtores e exportadores de grãos do mundo, o Brasil dá um passo para tentar reduzir sua dependência do trigo importado, que hoje representa quase 60% do consumo no país. O plano, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é aumentar a área plantada no Cerrado de 252 mil hectares em 2021 para 353 mil hectares até 2025, com uma produção extra de 300 mil toneladas e uma desoneração de R$ 450 milhões na balança comercial do grão.

Esses são os principais objetivos do Termo de Execução Descentralizada ou TED do Trigo Tropical, aprovado na semana passada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em nota, o chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, afirma que o investimento em pesquisa e transferência de tecnologia será de R$ 2,9 milhões e as ações devem envolver diversos setores da cadeia produtiva de grãos nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e no Distrito Federal.

“O projeto de expansão do trigo tropical pode ser viabilizado financeiramente pela redução de gastos com as importações de trigo, além da geração de renda com a dinamização da economia no Brasil Central”, disse Lemainski, no comunicado.

O TED do Trigo Tropical foi apresentado ao Mapa pela primeira vez em setembro de 2020, mas não foi incluído no Orçamento de 2021, como o setor esperava. O cereal, assim com oos fertilizantes, está entre os principais itens do agroengócio importados pelo Brasil, onerando a balança comercial do País em R$ 10 bilhões por ano.

Em 2021, a produção brasileira de trigo avançou e chegou a 7,7 milhões de toneladas, com importação de outros 6,2 milhões. Mais de 80% da produção vem do Rio Grande do Sul e Paraná, mas o plantio avança também no Cerrado, onde a produtividade do trigo irrigado chega a ser três vezes maior que a do grão gaúcho.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), o embaixador Rubens Barbosa, disse, nesta segunda-feira (28/3), à Globo Rural, que o plano técnico de organização da produção da Embrapa, embora esteja atrasado, é muito positivo porque pode elevar em 40% a produção no Cerrado. “A decisão de investimento foi influenciada pela situação global, mas há muitos anos a Abitrigo destaca a necessidade de se reduzir a vulnerabilidade do país na produção do trigo por uma questão estratégica.”

Em 2019, a entidade apresentou ao Mapa um documento formulado pela cadeia intitulado Política Nacional do Trigo, que já sugeria ações para ampliar a produção. Questionado sobre o que as indústrias podem fazer para estimular o plantio no Cerrado, Barbosa disse que o aumento da oferta pode ser aproveitado pelas indústrias do Centro-Oeste e Nordeste, que hoje importam. “Mas se houver aumento da demanda, novos moinhos certamente vão se instalar naquela região.”

Lavouras de sequeiro

Atualmente, 40% da área de plantio no Cerrado é irrigada, mas o plano técnico da Embrapa é elevar em 75 mil hectares o cultivo de sequeiro, que rende menos, mas tem custo de produção menor e menos competição por terras com feijão e outros produtos. A Embrapa desenvolve cultivares de trigo resistentes à seca e ao calor na região desde a década de 80.

O chefe da Embrapa afirma que o trabalho será coordenado pela empresa de pesquisa pública, mas terá a participação da indústria moageira, cooperativas, extensão rural, associações de produtores e federações da agricultura, além de lideranças regionais. “Os produtores de sementes terão papel fundamental, já que a expansão da área depende da disponibilidade de sementes de trigo em quantidade e com qualidade para suprir a demanda crescente.”

Além da transferência de tecnologia, por meio de dias de campo, visitas técnicas e ensaios de pesquisa, o TED vai promover estratégias de combate à brusone, principal doença limitante da cultura no Cerrado, com seleção de cultivares e indicação de manejo mais eficientes no combate à doença que é causada por um fungo que seca as espigas e derruba a produtividade e a qualidade. Não há produtos específicos para o combate à brusone, que preocupa também triticultores de outros países. No próximo ano, a Embrapa deve lançar uma cultivar mais resistente ao fungo.

Também haverá foco no refinamento das simulações de risco climático a partir das lavouras expositivas e experimentos que serão conduzidos em 36 municípios em sete estados, além de reforço de pessoal, aquisição de máquinas e implementos para suporte à base de pesquisa e transferência de tecnologias da Embrapa instalada na cidade mineira de Uberaba.

“É preciso considerar que, além de prover segurança alimentar ao país, a expansão do trigo no Cerrado também promove agregação de renda e empregos na região, principalmente em empresas de insumos e produtores de sementes, já que a cultura do trigo é inserida em áreas que ficam em pousio na estação seca”, diz Lemainski, no comunicado.

Fonte: Globo Rural

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