Brasil está mais equipado para combater epidemia que resto da AL, aponta estudo

Coronavírus
23/04/2020

O peso do investimento público no setor de saúde garantiu ao Brasil uma posição privilegiada no enfrentamento da covid-19, quando comparado ao restante da América Latina. Estudo da consultoria Global Health Intelligence indica que nos últimos três anos – antes portanto da pandemia – o país foi o único em que houve aumento (30%) no número de respiradores. Em todas as outras 13 nações da região pesquisadas, o total de respiradores caiu entre 2017 e 2019.

Considerado um país modelo na região em termos de saúde, o Chile tinha ao fim do ano passado 5% das suas camas de hospital equipadas com respiradores. No Brasil, esse percentual era duas vezes maior: 16%. Ainda assim, o percentual brasileiro está longe daquele registrado nos Estados Unidos, onde 39% dos leitos hospitalares dispõem de um respirador mecânico.

“Qualquer mudança [avanço] de dados em um sistema de saúde na América Latina precisa passar forçosamente pelo governo. Porque nenhum hospital, cadeia ou grupo hospitalar tem o poder necessário para mover uma quantidade tão grande de equipamento”, sustenta Guillaume Copart, presidente-executivo da Global Health Intelligence (GHI).

O preço de um respirador subiu por causa do avanço no novo coronavírus e está hoje na casa de US$ 60 mil. Cinco meses atrás, antes portanto da pandemia, era possível encontrar alguns modelos de aparelho na faixa de US$ 35 mil a US$ 40 mil, compara o executivo.

“Para um hospital privado comprar um respirador nos países da América Latina, onde há pouco acesso a financiamento, pouca capacidade de alavancagem financeira, é muito difícil. Então, realmente a única forma de aumentar a base instalada é por meio de compras de governo”, diz Copart.

Entre 2017 e 2019, o número de respiradores no Brasil cresceu 30%, totalizando 52.815 unidades no fim do ano passado, de acordo com a GHI. No mesmo período, o Chile apresentou redução de 9% na sua base instalada e o México registrou retração de 5%. Como base de comparação, os Estados Unidos dispunham de 62,2 mil respiradores mecânicos e adquiriram pelo menos mais 12 mil para enfrentar a covid-19.

A expansão no número de respiradores ao longo dos três últimos anos garantiu ao Brasil a liderança com folga na América Latina no quesito de aparelhos por cada cem mil habitantes – 25,3, ante 13,05 da Argentina, a segunda colocada.

Apesar de ressaltar que o Chile possui o melhor sistema de saúde da região, Copart destaca o fato de o Brasil abrigar hospitais de padrão internacional, o que contribui de alguma forma no combate à pandemia. Como exemplo, ele cita o caso do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A instituição apareceu este ano em 38º lugar numa lista dos melhores hospitais do mundo publicada pelo semanário americano “Newsweek.”

O Sírio-Libanês, igualmente em São Paulo, também aparece na lista. Além dos dois hospitais brasileiros, nenhum outro latino-americano aparece na relação dos cem melhores.

Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a médica sanitarista Ligia Bahia frisa que o “setor privado veio avançando” nas últimas décadas, enquanto o gasto público em saúde permaneceu estável. “[O gasto público] sempre foi menor que 3% do Produto Interno Bruto em qualquer governo desde a redemocratização do país”, afirma ela.

De acordo com a especialista, mais de 50% dos leitos de CTI (centro de tratamento intensivo) no país estão em hospitais privados. Na avaliação de Ligia, o sistema de saúde brasileiro peca por ser extremamente segmentado e fragmentação.

A segmentação, explica ela, se dá principalmente devido à renda, que vai ditar o acesso do paciente à saúde. A fragmentação está relacionada à diversidade de instituições existentes. Hospitais públicos podem ser federais, estaduais e municipais, por exemplo. Já no setor privado tanto hospitais filantrópicos como estabelecimentos voltados prioritariamente para o lucro podem ou não fornecer leitos para o Sistema Único de Saúde.

Fonte: Valor Econômico

Deixe sua opinião