Trigo tem tendência de alta nos preços mesmo com produção recorde, avalia especialista

Setor
11/01/2022

Com a colheita de trigo se aproximando do fim no Brasil, estimativas oficiais divulgadas em novembro indicam reajustes negativos para as ofertas brasileira e mundial. A Conab diminuiu a produtividade esperada em vários Estados do país, com destaque para o Paraná e o Rio Grande do Sul. Essa projeção é reflexo da seca e das geadas ocorridas durante o desenvolvimento da cultura, estimada em 2,832 toneladas por hectare, 6,4% abaixo do relatório anterior, mas ainda 6% superior a de 2020.
Em entrevista ao Jornal O Presente Rural, a especialista de Inteligência de Mercado da StoneX Brasil, Ana Luiza Lodi, afirmou que mesmo com as estimativas da Conab indicando quebra na produção brasileira, a projeção continua sendo recorde, acima de sete milhões de toneladas no país. “De qualquer forma o cenário é de demanda aquecida, com a manutenção de preços domésticos fortalecidos, com destaque para a importação, que também deve crescer no comparativo anual”, avalia.

Em termos globais, o USDA também reduziu as estimativas de produção, o que pode levar os estoques de passagem em 2021/2022 para os menores volumes desde 2015/2016. Por sua vez, no Brasil a produção do cereal está projetada em 7,9 milhões de toneladas, superior aos 7,7 milhões apontados em setembro, enquanto as importações em 2021/2022 permeiam a casa dos 6,5 milhões de toneladas. Os estoques finais são projetados em 1,01 milhão de toneladas. “Mesmo se mantendo uma projeção da produção de trigo no Brasil em crescimento, o país continuará dependente de importações para atender o consumo doméstico, cuja previsão também é de expansão”, diz a analista da StoneX.

De acordo com a analista da StoneX, no mercado global, os preços do trigo encontram-se suportados, diante de um menor excedente exportável – países que são exportadores significativos de trigo. Além disso, destacam-se mudanças na dinâmica do mercado de trigo, como países do Norte da África e do Oriente Médio buscando o cereal mais na Europa, após as taxações russas. Nos EUA, o furacão Ida afetou a logística de grãos nos portos exportadores do Golfo. “Com isso, as perspectivas são de queda dos estoques mundiais, que acabam ficando muito concentrados na China e na Índia, em relação ao ciclo anterior”, afirma.

Preços em alta

Entre os fatores que tem interferido no preço do trigo, a analista da StoneX pontua a queda da produção de países exportadores como EUA, Canadá e União Europeia, enquanto a Rússia apresenta aumento da produção e elevação da taxa de exportação, somada a queda das exportações estadunidenses. “Até o final de 2021 os preços devem seguir em tendência de alta, a curto prazo não há perspectiva de alguma queda considerável, tendo em vista que há sinais de demanda aquecida no mercado internacional, associado a um cenário ajustado de oferta e demanda, produção aquém do estimado anteriormente e altas consecutivas sobre a taxa de exportação russa”, expõe.

Produção recorde do trigo argentino

Com o avanço da colheita, a produtividade média passou para 2,4 toneladas por hectare e diante dessa melhora nos rendimentos obtidos e esperados nas regiões Centro e Sul do cinturão agrícola na Argentina, a Bolsa de Grãos de Buenos Aires eleva estimativa da safra 2021/2022 para 20,3 milhões de toneladas. O recorde anterior da colheita de trigo argentino foi na casa de 19 milhões de toneladas, na safra de 2018/2019. A estimativa das exportações do país é de 13,5 milhões de toneladas. “Assim como a Argentina é nosso principal fornecedor de trigo, o Brasil é o principal mercado do cereal argentino. Uma produção maior na Argentina tende a ser positivo, pois o país tem diversificado os destinos do trigo nos últimos anos, além de haver preocupações com o excedente exportável ao redor do mundo. Dessa forma, uma produção argentina maior garantiria as necessidades do Brasil sem maiores problemas. Contudo, a aprovação de uma variedade de trigo transgênico na Argentina pode afetar as exportações para o Brasil, uma vez que há uma grande resistência em se passar a usar essa variedade de trigo no mercado doméstico brasileiro”, menciona Ana.

Cotações domésticas

As perspectivas para o balanço de oferta e demanda, o câmbio, a oferta argentina, além do mercado global devem continuar tendo efeito sobre as cotações domésticas. “Há preocupação quanto à aprovação de uma variedade de trigo transgênico na Argentina, com a possibilidade de moinhos brasileiros buscarem outras origens para substituir o cereal argentino, por se recusarem a usar essa variedade”, alerta a analista da StoneX.

Fonte: O Presente Rural

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