Retomada persiste em julho, diz Ibre

Coronavírus
23/07/2020

Dados preliminares de junho indicam que a economia terminou o segundo trimestre em ritmo mais favorável, após o fundo do poço de abril e a reação tímida de maio. A tendência mais positiva parece ter prosseguido em julho, de acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Com base nas sondagens de confiança empresariais e do consumidor deste mês e na extensão do auxílio emergencial até agosto, o Ibre reviu para cima a expectativa para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, de 4,6% para 5,6% em relação aos três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais. A expansão deve ocorrer após um recuo de 9% no segundo trimestre – a maior queda da história documentada do Brasil, considerando estimativas da entidade para o PIB trimestral desde 1980.

Para 2020, a edição de julho do Boletim Macro, antecipado ao Valor, traz projeção de queda de 5,5% para a economia, e de aumento de 2,4% em 2021. “Não recuperaremos nem metade do que foi perdido este ano. De acordo com nossos cálculos, retornaremos ao nível de atividade do quarto trimestre de 2019 – isto é, ao nível pré-pandemia – apenas no segundo semestre de 2022”, apontam os pesquisadores Armando Castelar e Silvia Matos na abertura do documento.

Segundo Castelar e Silvia, o Brasil pode tirar diferentes lições da experiência internacional. A primeira é que, com normalização parcial dos negócios, deve haver melhora da atividade no terceiro trimestre. Também deve haver assimetria entre o ritmo de recuperação dos setores, com maiores desafios para os serviços, que dependem mais da interação social. “Estes continuam com a atividade mais retraída e não devem voltar ao patamar pré-crise tão cedo.”

Nas estimativas do Ibre, o PIB dos serviços afundou 8,2% de abril a junho. Depois disso, deve ter recuperação parcial das perdas no terceiro trimestre, com alta de 5,6%. Coordenadora técnica do boletim, Silvia destaca que, pelos dados do Monitor do PIB do instituto, a queda do consumo das famílias tem ficado concentrada nos serviços. A melhora no cenário para o segundo e terceiro trimestres ocorreu devido ao desempenho do comércio de bens, ressalta ela.

“Tudo indica uma recuperação baseada no consumo de bens em detrimento do consumo de serviços”, comentam Silvia e a pesquisadora Luana Miranda na seção de atividade do boletim. “Agora, mais do que nunca, é fundamental acompanhar cuidadosamente as dissonâncias setoriais, visto que os serviços, setor mais afetado pela crise e cuja recuperação tem sido excessivamente lenta, respondem por mais de 70% do valor adicionado da economia”, alertam as economistas.

Em abril e maio, destacam Silvia e Luana, a Pesquisa Mensal dos Serviços (PMS), do IBGE, mostrou um “cenário dramático” para os serviços prestados às famílias, cuja receita real caiu mais de 60% sobre igual período do ano anterior nos dois meses. A categoria corresponde a cerca de 24% dos serviços contabilizados no PIB, apontam.

Nas sondagens de confiança, observam os pesquisadores Aloisio Campelo e Viviane Seda, o comércio está menos pessimista que o consumidor. O índice das famílias está mais próximo ao do setor de serviços, que continua com a menor confiança na prévia das pesquisas empresariais de julho.

Após o fim do pagamento do auxílio emergencial, a aceleração do consumo, que deve crescer 5% nos três meses terminados em setembro, deve perder fôlego, assim como a retomada do nível de atividade em geral, avalia Silvia. “Algumas famílias estão poupando recursos, mas não acho que essa poupança será suficiente para compensar a queda da renda do trabalho na economia.”

Em maio, o auxílio de R$ 600 representou quase 10% de todos os rendimentos da população segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19, aponta o pesquisador Daniel Duque, responsável pela seção de mercado de trabalho do boletim.

Na média do ano, Duque estima que a massa de renda real ampliada – que inclui, além da massa de rendimentos do trabalho, benefícios de proteção social e previdenciários – vai aumentar 2% ante 2019, com ajuda das políticas de compensação de renda do governo. Nos últimos três meses do ano, porém, o desempenho da renda deve ser negativo, avalia o Ibre, após o fim do auxílio emergencial e também com mais pessoas voltando a procurar emprego.

Fonte: Valor Econômico

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