Reabertura pode ser arriscada, diz Citi

Coronavírus
14/07/2020

A partir de dados que permitem avaliar como está evoluindo a pandemia no país, o Citi Brasil conclui que os governos locais podem ser forçados a interromper ou reverter o processo de reabertura de suas economias. Em relatório divulgado ontem, os economistas Leonardo Porto e Paulo Lopes apontam que a normalização das atividades pode ser uma estratégia arriscada.

“Reforçamos nossa preocupação de que o processo de abertura em curso no Brasil pode ser prematuro, potencialmente levando a uma interrupção, ou mesmo à reversão, dessa estratégia num futuro próximo”, afirmam Porto, economista-chefe do banco para o país, e Lopes. Caso esse cenário mais pessimista se concretize, o controle da covid-19 levará mais tempo, o que vai prolongar a crise econômica e piorar ainda mais o quadro fiscal, alertam os economistas.

A avaliação do Citi de que o Brasil pode ainda não estar pronto para reabrir a economia foi feita com base em seis indicadores. De acordo com o banco, os dados usados estão normalmente associados à probabilidade de um país em ser bem-sucedido no controle do avanço da doença.

A primeira evidência preocupante destacada por Porto e Lopes é o índice de mobilidade da população brasileira – o mais elevado da América Latina. A queda na movimentação das pessoas é sistematicamente mais fraca aqui do que no restante do continente, e perdeu ainda mais fôlego desde o piso de -50% atingido no fim de março, observam eles. Atualmente, o dado, calculado com base em informações do Google, mostra redução de cerca de 30% em relação à frequência normal.

A taxa de contágio (Rt) no país, que indica para quantas pessoas em média cada infectado transmite a doença, está acima de 1 há nove semanas, segundo estimativa do Imperial College de Londres, ressaltam os economistas. Em 21 de junho, ficou em 1,06. O número seria consistente com aumento exponencial de contaminados, dizem.

“Outra fragilidade no processo de abertura é a evidência de poucos testes de covid-19 na população”, acrescentam. Quando comparada aos EUA, a muitos países europeus e também a nações emergentes, incluindo algumas da América Latina, a taxa de testagem brasileira, de 21 mil por um milhão de habitantes, ainda é baixa. Assim, há um risco maior de que pessoas contaminadas não sejam mantidas em isolamento em meio à reabertura.

A taxa de ocupação dos leitos de UTI também precisa ser levada em conta, aponta o Citi. Em 19 de 24 Estados, havia mais leitos de unidades de terapia intensiva na comparação de 6 de julho com 17 de abril, mencionam os economistas. Por outro lado, a ocupação (média não ponderada) nesses Estados subiu de 38% para ao redor de 68% em igual intervalo, o que indica maiores chances de que haja um colapso do sistema de saúde em uma possível segunda onda da doença, dizem.

“Outra evidência preocupante é o estágio atual da curva diária de mortes”, comentam Porto e Lopes. Ao contrário do observado nos EUA e em alguns países europeus – que deram início à normalização da atividade somente depois que o número diário de óbitos passou a cair -, o Brasil pode estar reabrindo sua economia com uma curva estável de mortes, ao redor de mil por dia desde o fim de maio. Para os economistas, esse dado sugere que o momento é arriscado para flexibilizar a quarentena.

Por fim, o Citi cita a pesquisa EpiCovid-19, coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e financiada pelo Ministério da Saúde. Segundo o estudo, até o fim de junho, apenas 3,8% da população brasileira já tinha sido exposta ao vírus. “Essa estimativa sugere que o Brasil ainda está muito longe de atingir a imunidade de rebanho.”

Em resumo, o Brasil está “desconfortavelmente posicionado”, avaliam os economistas do Citi, seja analisando somente o histórico dos dados do país, ou comparando-os com outras nações.

Fonte: Valor Econômico

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