Paralisação em abril foi a maior da história para setor industrial

Coronavírus
09/06/2020

Em abril, segundo mês da pandemia de covid-19 no Brasil, a proporção de empresas do setor industrial que esteve com as atividades paralisadas foi seis vezes maior que a média histórica do setor. Em maio, a situação melhorou, mas ociosidade segue muito alta, o que gera preocupação quanto ao ritmo de recuperação da indústria, de acordo com um levantamento especial realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

O estudo, feito a partir de microdados das sondagens mensais realizadas pela instituição, também mostra que a retomada entre os setores, em maio, é muito heterogênea.

Em maio, 9,5% de toda a indústria de transformação estava com as atividades totalmente paralisadas, percentual menor que os 14,4% de abril, mas cinco vezes maior que a média histórica do período, de 1,8%. O resultado entre os segmentos, contudo, é heterogêneo. “A gente já viu isso nos dados da PIM-PF [produção industrial, do IBGE] de abril. Alguns setores foram bem mais atingidos. Cada um está enfrentando a crise de forma diferente”, diz Renata Mello Franco, pesquisadora do Ibre-FGV, responsável pelo levantamento.

Os segmentos de veículos automotores, produtos de metal e máquinas e materiais elétricos foram os que tiveram mais fábricas reabertas, quando comparamos os valores observados em abril e maio em relação à média histórica. No caso do setor automotivo, 59,5% das fábricas estavam fechadas em abril, percentual que caiu para 22,2% em meio. Em produtos de metal, nenhuma fábrica estava parada, ante 15% delas fechadas em abril. E em máquinas e materiais elétricos a fatia caiu de 15,5% para 4,9%.

Vestuário (de 34,1% para 69,3%), couro e calçados (38,9% para 49,8%) e outros equipamentos de transporte (de 7,1% para 30,7%), o caminho foi o contrário, com mais fábricas fechadas em maio que em abril.

Com a reabertura das fábricas, o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) da indústria de transformação aumentou, na média, da mínima histórica de 57,3% em abril, para 60,3%, segundo menor patamar da série da FGV, que começa em 2001. Até março, antes dos efeitos mais pesados da pandemia, a média de utilização da indústria era de 79,8%.

A sondagem industrial de maio, quando o Nuci é apurado, mostra que houve mais uma calibragem das expectativas das empresas do que realmente um aumento consistente de confiança, diz Renata. “A gente olha os dados com muita cautela. Não é a recuperação que a gente observou na greve dos caminhoneiros”, diz. Naquele momento, em maio de 2018, a produção industrial levou um tombo, mas logo no mês seguinte a alta foi expressiva, embora alguns segmentos não tenham retomado o nível de antes. Um dado positivo é que as empresas encerram maio menos estocadas que no início do mês.

Renata ainda destaca que apesar da ligeira melhora, a ociosidade da indústria é muito grande. “Em maio, a reabertura de fábricas é determinante para o desempenho do setor, mas o fato de o Nuci das empresas que efetivamente estão produzindo se encontrar ainda em níveis tão baixos acende sinal de alerta para o ritmo de recuperação”, afirma.

Em maio, aponta, o levantamento, a parcela das que estavam operando com até 39% da capacidade, ou seja, mais de 60% de ociosidade, era de 14,1%, contra média histórica de apenas 1,5% no mesmo período.

Aqui também há muita heterogeneidade entre os segmentos industriais. O de celulose papel, com Nuci de 87,0%, a indústria farmacêutica (78,6%) e a de alimentos (76,8%) apresentaram os melhores resultados, embora os dois primeiros tenham reduzido ligeiramente a utilização nos dois últimos meses. “Desde o começo da pandemia, esses segmentos têm sido menos afetados, de forma que seus respectivos Nuci’s permaneceram em níveis elevados em relação ao restante do setor e relativamente próximos à sua média histórica”, diz Renata.

No extremo oposto, vestuário (14,1%), outros equipamentos de transporte (24,7%) e veículos automotores (25,1%) estavam nas últimas posições em termos de utilização de capacidade em maio e são os que registram as maiores diferenças em relação às suas médias históricas. Mas embora ainda estivesse em situação muito ruim em maio, a indústria automotiva conseguiu recuperar 12 pontos percentuais na utilização de capacidade.

O segmento têxtil foi bastante afetado durante a pandemia por causa dos problemas nas importações de insumos. A indústria têxtil está com uma utilização da capacidade 50 pontos percentuais abaixo de sua média histórica. O mesmo ocorre com couro e calçados. Nenhum outro segmento exibiu comportamento tão desfavorável quanto esses dois, diz Renata.

Fonte: Valor Econômico

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