Nova cota terá efeito limitado no setor de trigo

Abitrigo
23/06/2020

Aprovada na semana passada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), a nova cota de 450 mil toneladas para importação de trigo de países de fora do Mercosul sem a cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% por parte dos moinhos brasileiros preocupa os produtores nacionais e gerou reclamações na Argentina. Mas, segundo analistas, a medida terá pouca influência sobre o mercado: os exportadores argentinos não deverão perder a clientela por causa disso e a queda de preços no Brasil, normal no segundo semestre, não deverá se acentuar.

A cota “extra” foi criada na semana passada. Poderá ser acessada até 17 de novembro, desde que 85% do volume de 750 mil toneladas por ano permitidas atualmente seja preenchido. De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o embaixador Rubens Barbosa, os moinhos pediram a ampliação com receio de que falte trigo argentino até o fim do ano. Em parte, esse temor deriva de estoques iniciais baixos e da aquecida demanda no país por alimentos básicos, que usam trigo em sua composição, um reflexo da pandemia.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo interno de trigo voltará a ficar em torno de 12,5 milhões de toneladas em 2020, mesmo patamar do ano passado, e a colheita brasileira crescerá quase 5%, para 5,7 milhões. Assim, conforme a estatal, as importações crescerão apenas 100 mil toneladas este ano, para 7,3 milhões. A Argentina tem representado 85% das importações do Brasil e, segundo os exportadores do vizinho, não há risco de problemas no fornecimento mesmo que o volume supere as 5,5 milhões de toneladas que até agora preveem embarcar – 75% das importações brasileiras projetadas.

“Essa expansão [da cota] é ilegal. O Brasil deve reverter a medida”, afirmou um exportador ao jornal argentino “La Nación”. Por meio das entidades que os representam (Ciara e CEC), os exportadores enviaram notas de protesto ao governo do país, até agora sem efeitos práticos. Num passado não muito distante, a Argentina já foi a origem de 90% das importações brasileiras, ou até mais que isso. Mas diversificou suas vendas e viu o percentual cair um pouco. Da mesma forma, a indústria brasileira tenta diversificar suas fontes de abastecimento, num movimento que beneficia EUA e Rússia, principalmente.

Em maio, o Brasil importou 466,8 mil toneladas de trigo, ou US$ 104,2 milhões, conforme dados compilados pelo Ministério da Agricultura. Do total adquirido, 397,3 mil toneladas, ou 85,1%, vieram da Argentina. Na comparação com igual mês de 2019, o volume cresceu 15,3% e a receita foi 9% maior. O preço médio da tonelada caiu de US$ 236,16 para US$ 223,20 na mesma comparação. Nos primeiros cinco meses do ano, moinhos brasileiros já compraram 3,05 milhões de toneladas do cereal do exterior, 4,7% mais que no mesmo período de 2019, e o peso argentino foi mantido. O valor recuou 5,7%, para US$ 638,4 milhões.

Segundo Luiz Carlos Pacheco, analista da T&F Consultoria, as importações mensais tendem a crescer no início do segundo semestre, devido a um atraso da colheita brasileira – e antes que esta entre no mercado. Em 2020, disse ele, só 100 mil toneladas foram compradas de fora do Mercosul. Mas, tendo em vista que a relação entre oferta e demanda poderá ficar mais justa, o volume poderá aumentar depois de setembro.

“Até a nova safra brasileira ser colhida e chegar aos moinhos, levará uns quatro meses, e o Brasil precisará nesse período de 3,7 milhões de toneladas para esmagar. Com a nova cota, os moinhos querem apenas se garantir, afirmou Pacheco. Ele não acredita que a indústria tenha pedido o volume extra para pressionar as cotações, infladas pelo câmbio. Segundo a T&F, a tonelada para entrega em setembro está em R$ 1,1 mil; para outubro, em R$ 1 mil, e para novembro, em R$ 900.

Fonte: Valor Econômico

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