Cultivo inédito de trigo mostra produção inovadora e sustentável

Setor
04/01/2022

O ano de 2021 ficará marcado na história do agro capixaba como o ano em que o Estado registrou a primeira colheita de trigo da sua história. Plantado em uma área de 50 hectares na fazenda Joaquim Ferreira Sanders, a 22 km do centro de Pinheiros, no Norte, o trigo chegou para completar o ciclo com a terceira safra de grãos da propriedade, intercalando com milho e feijão.

Uma novidade que só foi possível graças ao olhar visionário e destemido dos irmãos Arthur (37) e Lucas Orletti Sanders (35). Há um ano, Arthur viu num grupo de Whatsapp uma conversa sobre o sucesso da produção de trigo no Rio Grande do Norte. Ele lembra que o que mais chamou sua atenção foi o tempo entre plantio e colheita, e a partir daí desencadeou o processo, culminando na primeira produção do grão em terras capixabas.

“Os relatos do tempo entre plantio e colheita, de apenas setenta e quatro dias, me encheram os olhos. Vi que se encaixaria perfeitamente no nosso ciclo e assim começamos”, destaca o produtor.

A variedade plantada foi a TbioAton, desenvolvida pelo Bio Trigo Genética para clima típico do Cerrado brasileiro. O investimento foi de R$ 60 mil e rendeu aos produtores uma safra de 140 toneladas. Toda safra foi comercializada em um moinho do Espírito Santo.

Sustentabilidade na veia

Os irmãos comandam as propriedades da família desde a morte do pai, há sete anos, e tentam manter os ensinamentos deixados por ele, especialmente no que diz respeito às inovações e sustentabilidade. Há 22 anos, quando pouco se falava em sustentabilidade e consciência ecológica, o patriarca já plantava feijão nas entrelinhas do café para aproveitar a água da irrigação e economizar energia.

“Meu pai era um cara muito intuitivo. Ele pensava da seguinte forma: se estou irrigando o café posso aproveitar a água. Molho o café e o feijão ao mesmo tempo, economizo e tenho uma renda extra”, conta Lucas.

E com a produção de trigo não é diferente. Segundo Arthur Sanders, a cultura do trigo, além da boa produtividade e lucratividade, também deixa uma grande quantidade de restos culturais, que melhoram a matéria orgânica do solo e ajudam na fertilidade das próximas lavouras.

O engenheiro agrônomo mestre em Fertilidade de Solos, Rogerio Oliveira Castro, pontua que “o trigo é uma opção sustentável. É um cereal que ao longo do cultivo deixa uma matéria orgânica muito boa, com fibra, de difícil decomposição. O sistema radicular dele é bastante agressivo, tornando o solo mais poroso e deixando penetrar mais água no terreno. Além disso, ele suprime vários fungos prejudiciais aqui na nossa região”.

Outra iniciativa para melhorar o solo é a compostagem feita com 100% da palha de café gerada na propriedade. Na compostagem são usados, além da palha, esterco de frango (produto rico em nitrogênio) e uma bactéria para acelerar a ação. Ao final do processo é feita uma análise em laboratório para saber exatamente quanto de adubo convencional o solo ainda vai precisar após receber a compostagem.

“Aplicamos a compostagem em qualquer cultura, mas o foco é aproveitá-la no café. Além de sustentável, ela ajuda nos custos, uma vez que o adubo está muito caro e nela tem praticamente três por cento de potássio, um dos nutrientes mais necessários e de maior custo na agricultura”, ressalta Arthur.

Para evitar o uso exclusivo de defensivos químicos no solo, há um ano e meio os irmãos implementaram o processo de multiplicação de produtos biológicos. No controle de pragas de solo usam 100% de defensivos biológicos. Já em pragas como lagartas e ácaros fazem de maneira alternada, com uma aplicação de defensivos químico e uma de biológico.

Fonte: Conexão Safra

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