Atividade recuou 5,3% em março, maior queda em 20 anos, aponta FGV

Coronavírus
19/05/2020

A atividade econômica em março caiu 5,3% ante fevereiro, segundo leitura do Monitor do PIB, anunciado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Causada pela pandemia, foi a mais forte queda, nessa comparação ante mês anterior, da série histórica do indicador iniciada em janeiro de 2000.

Para o economista Claudio Considera, coordenador do monitor da FGV, a economia deve continuar a bater recordes negativos ao longo deste ano. Ele comentou que, também no levantamento, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 1% no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses de 2019, pior resultado trimestral desde setembro de 2015 (-1,4%). Na comparação com março do ano passado, o recuo foi de 0,9%, menor taxa desde junho de 2019 (-1,5%).

“Vai piorar mais, não tenho dúvida”, completou.

Ao justificar seu pessimismo, Considera explicou que as restrições de circulação de pessoas, bem como suspensão de algumas atividades de serviços, causadas pela pandemia, começaram em meados de março. Ou seja: o indicador não captou, ainda, efeito em mês cheio, ou em trimestre cheio, do atual cenário.

Além das restrições impostas em março, o momento presente carrega maior desemprego, renda em queda e consumo mais reduzido, em relação ambiente pré-pandemia, frisou ele.

Como exemplo, o especialista citou evolução dos componentes do Monitor do PIB em março, em relação a fevereiro. Na pesquisa da FGV, a atividade industrial caiu 7,5% nessa comparação, pior queda nessa série histórica de mês ante mês imediatamente anterior, iniciada em janeiro de 2000. Na agropecuária, o recuo foi de 2,2%, retração mais intensa desde dezembro de 2019 (-2,8%). E, na economia de serviços, houve queda de 6,5% também o mais intenso recuo desde início da série histórica.

Esse último segmento, de serviços, é um dos aspectos mais preocupantes, afirmou ele. “Não podemos nos esquecer que serviços [pelo lado da oferta] representam quase 70% do PIB total”, comentou ele.

Ao ser questionado se haveria alguma maneira de conter, em parte, a provável trajetória descendente do PIB neste ano, Considera foi taxativo.

“Não consigo ver nenhuma saída enquanto não for descoberto tratamento [eficaz], ou uma vacina”, afirmou ele.

Outro fator inquietante, na análise de Considera, é tentar mensurar como se dará possível recuperação na economia brasileira, em cenário pós-pandemia. O Monitor do PIB de maio, acrescentou o técnico, mostra quadro extremamente negativo em consumo e em investimentos – o que deve demandar tempo prolongado de recuperação.

Pelo lado da demanda, na pesquisa, o consumo das famílias caiu 6,5% em março em relação a fevereiro, a queda mais intensa da série, nessa comparação de mês ante mês imediatamente anterior, acrescentou Considera. A formação bruta de capital fixo (FBCF), por sua vez, que mede investimentos na economia, mostrou queda de 5,8% em março ante fevereiro – a pior desde janeiro de 2018 (-8,3%), de acordo com o especialista.

“Será uma recuperação lenta”, advertiu Considera. “Muitas empresas de serviços estão desaparecendo. O Ibre estima entre 17 milhões e 21 milhões os desempregados no país até fim do ano – e o emprego não volta logo”, alertou ele, citando projeção de desemprego do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV). No primeiro trimestre deste ano, havia 12,9 milhões de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o técnico, pela provável forte magnitude da queda na economia neste ano, que será causada pela covid-19, a retomada na economia seria mais provável apenas em 2021. Ele reconheceu que esse ano será um ano perdido para a economia. “Vai ser um desastre [a atividade econômica em 2020]”, resumiu.

A FGV informou ainda que, no Monitor do PIB, a exportação de bens e serviços apresentou queda de 3,8% no primeiro trimestre, em comparação com primeiro trimestre de 2019 com expressiva retração da exportação de bens de capital (-42,7%). Já a importação cresceu 5,3% no primeiro trimestre do ano, ante igual trimestre em 2019.

Fonte: Valor Econômico

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