Abril foi pior mês da atividade em quase 40 anos

Coronavírus
18/06/2020

Marcado pela escalada da covid-19 e pelo endurecimento das medidas de isolamento social, abril foi o pior mês para a atividade econômica brasileira em quase 40 anos, mostram dados de uma série histórica inédita do Instituto Brasileiro de Economia de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), obtida pelo Valor.

De acordo com o Indicador de Atividade Econômica (IAE) da Fundação Getulio Vargas, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou 12,9% em abril, ante o mesmo mês de 2019. É a maior queda de toda a série histórica da FGV, que reconstrói as estatísticas do PIB em série mensal até janeiro de 1981.

O resultado mostra que a crise foi em abril mais aguda do que em outros momentos críticos da história econômica. É mais intensa do que a registrada em abril de 1990 (-12,5%), o primeiro mês após o governo Collor congelar preços e salários, além de bloquear a caderneta de poupança – até então, esta era maior queda da série.

Ex-chefe de Contas Nacionais do IBGE, o pesquisador da FGV Claudio Considera disse que a intensidade da perda reflete o ineditismo da pandemia. As medidas de isolamento provocaram a interrupção da oferta de bens e serviços, ao mesmo tempo em que afetou a demanda via emprego e pela renda.

“É uma crise diferente das demais, como a da recessão de 2014-2016, ou a do governo Collor, que foram geradas por decisões de política econômica interna”, afirmou o pesquisador. “A pandemia também encontrou nossa economia já debilitada, com taxa de desemprego elevada, quase 13 milhões de desempregados. Enfim, é um desastre completo.”

O levantamento mostra que o PIB do comércio também registrou em abril deste ano o pior resultado desde 1981, ao recuar 26,3% frente ao mesmo mês do ano passado. Também neste caso, até então, o pior mês do comércio havia sido registrado em abril de 1990 (-24,5%), o mês seguinte ao anúncio do Plano Collor.

Já o setor de serviços – que no PIB inclui o comércio – registrou queda de 10,4% em abril, em relação ao mesmo mês de 2019, segundo o indicador da FGV. A perda tornou-se recorde ao superar janeiro de 2016 (-4,8%), um dos piores momentos da recessão do governo Dilma Rousseff.

Pelos cálculos da FGV, o indicador de atividade de abril mostra recuo de 8,8% na comparação a março. Para esse tipo de comparação, a série histórica limita-se a 2000 – e o resultado foi a pior desde então. Os principais impactos foram sentidos nas atividades industriais e de serviços.

O especialista observou, no entanto, que o mês de abril deve ter sido o período mensal com a maior contração na economia na atual crise. Economistas começam a prever taxas positivas para comércio e serviços em maio, embora em níveis ainda historicamente muito baixos.

O economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero, destaca o fortíssimo baque da pandemia sobre a produção e o consumo de bens e serviços. “Apostar que abril tenha sido efetivamente o fundo do poço, sem a trajetória de clara retomada à frente não alivia demais”, escreve ele, em nota, destacando a magnitude da herança estatística negativa deixada pelo desempenho da economia no mês.

No caso da indústria, o chamado carregamento estatístico ficou em -19,7%. Isso significa que, se a produção ficar estável em relação aos níveis de abril até o fim do ano, terminará 2020 em baixa de 19,7%. A herança negativa do varejo ampliado (que inclui automóveis e material de construção) é de 21,3%, e dos serviços, de 13,7%.

Fonte: Valor Econômico

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